Arte

Monday, 31 October 2022 21:58

“aracaty”: uma cena revisitada

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Cena da peça "aracaty". Isadora Garcia. Grupo Dias de Teatro. Aracati-CE | 2022 Cena da peça "aracaty". Isadora Garcia. Grupo Dias de Teatro. Aracati-CE | 2022 Joe Lima

Em 2009, escrevi a peça “aracaty” a pedido da atriz e arte-educadora Silvanise Ponciano. A montagem foi realizada pelo Grupo Dias de Teatro, coletivo formado por jovens atores/alunos do Instituto São José. O título da peça, grafada em letras minúsculas, traz a essência dos substantivos comuns, permite-nos perceber a história da cidade sob a ótica daqueles que a formaram sem, no entanto, ser-lhe menos justo quanto à sua importância e relevância.

O texto é protagonizado por Apoena uma jovem índia tupi que tem a função de guiar seu povo diante das adversidades de um tempo marcado pelo impacto do projeto colonizador português nas terras que viriam ser denominadas Brasil.


O plano histórico é utilizado na elaboração da trama com o objetivo de situar no tempo e no espaço personagens, tensões e conflitos. A fonte historiográfica funcionou como um trampolim para arquitetar uma reflexão atemporal que suscita da assistência uma relação direta com temas presentes no cerne da humanidade: ira, discórdia, traição, esperança e fé.


Após 13 anos de sua primeira montagem, a peça será reapresentada no dia 22 de outubro pelo Grupo Dias de Teatro como parte da programação do Intercâmbio Cultural e Esportivo Vicentino, realizado pelo Instituto São José.


A segunda montagem surge num momento em que o país vive o desmatamento criminoso da floresta amazônica, entre outros problemas de ordem ambiental como as queimadas ocorridas no pantanal brasileiro. A natureza devastada com a exploração ilegal de seus recursos é o centro da agonia dos povos tradicionais. Invasão de áreas de proteção ambiental, poluição de rios, pesca e garimpo ilegais são outros agravantes desse tema que expõem a face nua e crua desse problema.


Em “aracaty” vemos sob a ótica da ambição humana o extermínio de populações inteiras de índios da terra de Iracema. Sob a grave crise instalada pelo projeto de colonização português assim afirma Antônio Bezerra: “Enquanto não foram eles completamente aniquilados pelas armas, nunca puderam os brancos estender o seu domínio, no século XVII, além da aldeia junto ao forte ou além de outro arraial na barra dos rios." O tema abordado pela peça se reveste de atualidade e exige de todos uma atitude para além da indignação que faça surgir um novo tempo que se deseja sustentável e harmonioso.


EM TEMPO
A primeira montagem da peça realizada pelo Grupo Dias de Teatro ocorreu em 2009 sob a direção de Silvanise Ponciano. A cena foi apresentada nas dependências do Ginásio Nossa Senhora Auxiliadora mantido pelas Filhas de Maria Auxiliadora, em Aracati-CE.


Em 2010, a peça foi publicada pelo selo editorial Terra Aracatiense, projeto instituído pelo Grupo Lua Cheia de Teatro.


Matéria publicada na Revista Gente de Ação (ANO XXI • Nº 182 • OUTUBRO 2022).

Lido 736 vezes Última modificação em Monday, 31 October 2022 22:09
Marciano Ponciano

MARCIANO PONCIANO- Sou natural de Aracati-Ce, terra onde os bons ventos sopram. Na academia da vida constitui-me poeta, realizador de sonhos, encenador de máscaras. Na academia dos saberes acumulados titulei-me professor de Língua Portuguesa e especializei-me em Arte-Educação. O projeto de vida é semear a arte por onde passe: teatro, poesia, artes plásticas- frutos da experiência acumulada em anos dedicados a ser feliz. Quando me perguntam quem sou - ator, poeta, encenador, artista plástico, educador? Afirmo: - Sou poeta!

Publicou:

Poetossíntese. Coletânea de poemas. Ed. própria. Aracati-CE. 1996.

Caderno de Literatura Poetossíntese. Coletânea de poemas. Ed. Terra Aracatiense. Aracati-CE. 2006.

aracaty. Caderno de Literatura Poetossíntese. Ed. Terra Aracatiense. Aracati-CE. 2010.

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Sobre nós

O Grupo Lua Cheia, com sede na cidade de Aracati-CE, é um coletivo de artistas formado em 1990 com o objetivo de fomentar, divulgar e pesquisar a arte e a cultura.