Aracati

Friday, 08 January 2016 17:16

DA VILA À CIDADE: NASCE ARACATI

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RUA CORONEL ALEXANZITO, LADO ESQUERDO O HOTEL CENTRAL (atual Instituto do Museu Jaguaribano). RUA CORONEL ALEXANZITO, LADO ESQUERDO O HOTEL CENTRAL (atual Instituto do Museu Jaguaribano). Acervo e pesquisa de imagem: Netinho Ponciano

Assim como outras localidades do Ceará, a colonização da região onde se situa Aracati se consolidou com a instalação das fazendas de criação de gado. À medida que as fazendas iam sendo criadas, viajantes e andarilhos de todo tipo pediam autorização para trabalhar e fixar moradia. Geralmente o dono da fazenda permitia e, assim, a população ia aumentando. Em pouco tempo, não se tinha mais uma fazenda, mas um povoado. 

No início, os criadores de gado vinham em comboios, conduzindo grandes quantidades de bois. Eles seguiam os cursos dos rios e eram atraídos principalmente pela concentração de águas do rio Jaguaribe em Aracati. O ponto era atrativo para parada (ou pouso, como se dizia na época), pois era abundante em água para os homens e para o gado. 

  

O leito do rio Jaguaribe propiciou a fixação dos colonizadores portugueses que vieram para Aracati se dedicar à criação de gado. 

  

Como o comércio da carne e do couro prosperava rapidamente, os antigos povoados eram elevados à condição de vila. A elevação da região à condição de vila de Santa Cruz do Porto dos Barcos ocorreu no ano de 1748 e somente em 1842, a localidade passou da condição de vila para a condição de cidade e recebeu definitivamente o nome de Aracati. 

  

À medida que a população ia aumentando, o lugar era elevado a uma nova condição: povoado, vila, cidade. 

  

A concentração populacional em Aracati aumentava porque a região era promissora economicamente e oferecia opções de trabalho e atividades lucrativas. Muitas pessoas migraram de outras regiões para Aracati atrás dessas oportunidades. 

  

Até 1799, a capitania do Ceará esteve politicamente submetida à capitania de Pernambuco. Como demorou bastante para que o processo de colonização do Ceará avançasse, o governo português acabou decidindo que o Ceará passasse ao domínio de Pernambuco. Mas essa não foi a primeira vez que o território da capitania cearense esteve sob o domínio de outra capitania. Antes de estar submetido a Pernambuco, o Ceará esteve anexado à Capitania do Maranhão e Pará, de 1621 até 1656. 

  

No século XVIII, as várias capitanias que formavam o Brasil ainda estavam sob o domínio português e pesadas cargas tributárias eram cobradas pela atividade de criação de gado e comercialização da carne e do couro do animal. Apesar disso, houve acúmulo de considerável riqueza pelos fazendeiros e comerciantes da região. Os lucros com o gado financiaram a construção de casarões, igrejas e prédios públicos, como o abatedouro e a antiga Alfândega. Esses prédios eram considerados luxuosos para a época, pois sua decoração era composta com materiais vindos de Portugal. Os azulejos portugueses, que eram utilizados para decorar as fachadas externas dos edifícios, ainda podem ser vistos nas fachadas dos casarões antigos, que ficam no centro da cidade. 

  

Em grande parte do século XIX, Aracati seguiu na condição de maior e principal localidade do Ceará. Nenhuma região do Ceará era tão rica e desenvolvida quanto Aracati. Tudo isso foi proporcionado pela criação e comercialização do gado e seus derivados. 

  

Durante o século XIX, o Brasil deixou de ser uma colônia, tornando-se independente de Portugal, e passou a ser um império. 

  

Mudanças políticas, econômicas e sociais vinham ocorrendo desde a transferência da família real portuguesa para o Brasil em 1808. Após pressões e ameaças de perder o trono em Portugal, o rei dom João VI retornou a Portugal e seu filho, dom Pedro I, declarou a independência do Brasil e tornou-se o primeiro imperador do Brasil. 

  

Durante o período monárquico brasileiro, a nomeação e o status das localidades foram modificados. O Ceará deixou de ser uma capitania e passou a ser uma província e Aracati deixou de ser apenas vila e passou a ser cidade. 

  

Durante o século XIX, Aracati continuou se desenvolvendo economicamente e deu início ao processo de urbanização. Escolas foram fundadas, casas comerciais foram abertas e mais pessoas, de toda parte do império e do estrangeiro, se dirigiam para Aracati interessadas em obter trabalho e lucro. 

  

Contraditoriamente, foi nesse mesmo século que Aracati começa a sofrer com crises econômicas e políticas que levaram a cidade a uma situação de decadência. 

  

Os motivos para a crise foram vários. Dentre eles: 

  

  • As secas reduziram bastante o acúmulo de água pelo rio Jaguaribe, até epidemias (cólera, varíola e febre amarela) se espalharam por todo o Ceará. No caso de Aracati, as doenças se disseminavam, rapidamente, devido à grande quantidade de pessoas que se deslocavam para fazer o comércio da carne de charque. 
  • A carne de charque comercializada em Aracati também passou a ter a concorrência do charque produzido no Rio Grande do Sul. 
  • A produção de algodão, outra atividade econômica antiga do Ceará, prosperou no século XIX, pela procura desse produto no mercado exterior, centralizando os novos investimentos e se tornando mais lucrativa que as charqueadas. 
  • A construção da ferrovia que ligava o sertão e a serra de Baturité ao porto do Mucuripe, em Fortaleza, culminou definitivamente para a decadência econômica do porto e da cidade de Aracati. 

  

Os jovens aracatienses mais ricos se tornaram cultos e modernos, pois, como era de costume na época, estudavam nos centros econômicos mais desenvolvidos do Brasil, que eram Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, ou mesmo na Europa. A supremacia de Aracati, com relação às demais vilas do Ceará colonial, não diz respeito apenas à pujança econômica, mas, sobretudo, à polidez da elite de Aracati, conforme aponta o historiador João Brígido: 

  

"A gente do Aracati era a mais civilizada do Ceará, assim na roupa, como em tudo mais. Os homens aracatienses se distinguiam em música, ofícios mecânicos, letras e ciências dos de outras vilas. Um homem do Aracati podia meter a cara em qualquer negócio, e colocava-se no primeiro plano em toda parte, onde chegava". 

  

As ideias adquiridas pelos jovens na Europa refletiram no modo de vida da sociedade aracatiense. Além de centro econômico, Aracati se transformou num dos mais importantes centros culturais do Ceará, onde se vivia os ideais do mundo moderno: ideais abolicionistas (pela libertação dos escravos); ideais republicanos (pelo fim da monarquia); condutas e hábitos do modo de vida do europeu, como a forma de se vestir, falar, comportar-se. Enfim, tratava-se de uma sociedade que não se cansava em exibir sua riqueza material e intelectual. 

  

Fonte: Texto adaptado da dissertação Aracati (CE) no período colonial: espaço e memória, defendida em 2004, no mestrado acadêmico de Geografia da Universidade Estadual do Ceará (Uece) pela pesquisadora Maria Edivani Silva Barbosa. 


Fonte: SILVA, Raulene Gonçalves Oliveira da; MARIZ, Silviana Fernandes. Construindo Aracati. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2011. 160 p. 

 

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