História

Sunday, 12 May 2024 19:35

ENTREVISTA | ARACATI ERA ASSIM: UM TESTEMUNHO ELOQUENTE DOS SÉCULOS QUE MOLDARAM A TERRA DOS BONS VENTOS

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Antero Pereira Filho, escritor aracatiense. Antero Pereira Filho, escritor aracatiense. Joe Lima, 2024.

Em uma viagem literária pelo tempo, “Aracati era assim” emerge como um portal para a história viva de uma cidade que respira tradição e cultura. Sob a curadoria meticulosa do escritor aracatiense Antero Pereira Filho, esta coletânea transcende as páginas para se tornar um testemunho eloquente dos séculos de narrativas que moldaram a cidade natal de Adolfo Caminha. Cada texto é uma peça do mosaico que compõe a identidade desta cidade brasileira. Pereira Filho, com olhar atento e sensibilidade histórica, objetivou apresentar ao mundo uma obra que não apenas informa, mas também inspira. “Aracati era assim” é, segundo o autor, um convite para entendermos as motivações que continuam a tecer o presente da Terra dos Bons Ventos.

MARCIANO PONCIANO- Antero, o que o inspirou a reunir em uma obra textos históricos de diversos autores sobre a cidade de Aracati? Quando você percebeu que essa era uma história que precisava ser revisitada?

ANTERO PEREIRA FILHO- Inicialmente fui motivado pela curiosidade em saber como era a minha cidade natal no passado. Conhecer sua história, seus personagens e, naturalmente, dividir com meus conterrâneos. Quando descobri em cada documento uma nova situação, achei que era interessante reunir todos os textos para uma melhor compreensão do passado da cidade e torná-los acessíveis novamente por meio de uma publicação.

MP- Durante suas pesquisas, houve algum fato histórico ou relato sobre Aracati que o surpreendeu ou mudou sua percepção sobre a cidade?

APF- Todos os textos nos trazem algum descobrimento, uma novidade. No entanto, destaco o artigo escrito pelo historiador Henrique Théberge, escrito em 1898, que me deixou muito impactado. O documento descreve detalhadamente as razões do decaimento do Aracati. Esse texto me fez pensar como poderia ter sido o Aracati se tivesse continuado próspera.

MP- Você poderia compartilhar um pouco sobre o processo de seleção dos textos e relatos que foram incluídos no livro? Como você decidiu o que entraria ou não na publicação?

APF- A seleção foi feita baseada nos relatos mais marcantes: a cidade, as ruas, o povo e seus costumes. Naturalmente, os fatos econômicos e sociais também foram relevantes nessa seleção.

MP- O livro aborda tanto a pujança quanto o declínio de Aracati. Na sua opinião, quais foram os principais fatores que contribuíram para esses dois extremos na história da cidade?

APF- A pujança aconteceu pelo desenvolvimento comercial do período do charque, do algodão, da cera de carnaúba etc. Já o declínio se deu pelos seguintes motivos:  o assoreamento da barra que impediu a entrada de navios; a retirada de nossa alfândega e a inexistência e mesmo precariedade das vias de comunicação terrestre no município e que resultou no total isolamento da cidade dos centros consumidores.

MP- Existem períodos ou eventos na história de Aracati que foram particularmente difíceis de documentar? Como você superou esses obstáculos para incluir esses escritos na obra?

APF- Não é fácil pesquisar a história de Aracati, pois é fraca a bibliografia disponível sobre a cidade. Os jornais antigos constituem a principal fonte primária, todavia, esse acervo  encontra-se em arquivos cujo acesso, às vezes, é muito difícil. Muitos desses jornais foram destruídos pelas enchentes do Jaguaribe. Destino semelhante acomete muitos dos documentos  pertencentes ao poder público e cartoriais que se perdem com o tempo. É preciso muita dedicação e esforço para encontrar essas fontes consideradas, na maioria das vezes, como verdadeiras raridades .

MP- “Aracati Era Assim” é um convite à reflexão sobre a identidade aracatiense. Na sua visão, como a compreensão da história local pode influenciar a identidade cultural contemporânea?

APF- Eu acredito que a leitura do livro “Aracati Era Assim”, possa trazer lições e conhecimento a respeito da cidade de Aracati. Entre os quais destaco os fatos que a fizeram grande economicamente e, naturalmente, as causas do seu decaimento. A obra apresenta uma rica bibliografia cujos  textos podem ser analisados à luz da cultura, da sociedade e da economia, oportunizando uma reflexão sobre essas dimensões históricas e seus desdobramentos na sociedade aracatiense contemporânea.


Entrevista concedida pelo escritor Antero Pereira ao poeta Marciano Ponciano em 4 de maio de 2024.

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Marciano Ponciano

MARCIANO PONCIANO- Sou natural de Aracati-Ce, terra onde os bons ventos sopram. Na academia da vida constitui-me poeta, realizador de sonhos, encenador de máscaras. Na academia dos saberes acumulados titulei-me professor de Língua Portuguesa e especializei-me em Arte-Educação. O projeto de vida é semear a arte por onde passe: teatro, poesia, artes plásticas- frutos da experiência acumulada em anos dedicados a ser feliz. Quando me perguntam quem sou - ator, poeta, encenador, artista plástico, educador? Afirmo: - Sou poeta!

Publicou:

Poetossíntese. Coletânea de poemas. Ed. própria. Aracati-CE. 1996.

Caderno de Literatura Poetossíntese. Coletânea de poemas. Ed. Terra Aracatiense. Aracati-CE. 2006.

aracaty. Cadernos de Teatro. Ed. Terra Aracatiense. Aracati-CE. 2010.

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O Grupo Lua Cheia, com sede na cidade de Aracati-CE, é um coletivo de artistas formado em 1990 com o objetivo de fomentar, divulgar e pesquisar a arte e a cultura.