Luís Reis é um bom exemplo dessa competência. O professor de história e técnico em TI (Tecnologias da Informação) capta através da lente as sutilezas contidas na paisagem da cidade de Aracati e as revela com a potência mobilizadora da imagem. O itinerário proposto por suas imagens aproxima o sujeito dos lugares e valores por vezes adormecidos na repetição exaustiva do cotidiano. Nesse passeio pela cidade o que antes era cinza, desbotado renova-se em colorido, saturação e nitidez. A plurissignificância desse exercício incentiva o diálogo com a história, a memória e a sociedade.
O que muda? Tudo continua em seu lugar e essência, no entanto passamos a perceber por um novo ângulo a imagem antes inerte e gasta pela repetição cotidiana.
Luís Reis é um fotógrafo amador (ama o que faz) como todos os grandes fotógrafos. Sua intimidade com a imagem é antiga e bebe na influência de um outro memorável artista plástico José Otacílio com quem teve a oportunidade de conviver nos idos de 1990. O que percebemos na imagem senão a potência do arcabouço cultural do historiador e artista?
O exercício quase que religioso com que devota os finais de semana para o registro da paisagem, sociedade e arquitetura é semelhante a um outro fotógrafo, também amador, Abílio Monteiro. Abílio, na primeira metade do século XX, nos deixou como herança importante acervo fotográfico desse exercício curioso e poético que mobiliza Reis.
Há muito Aracati desperta o interesse de fotógrafos viajantes- atividade que enriquece o acervo imagético da cidade. Um breve passeio pela rede mundial de computadores será suficiente para perceber essa dimensão. Em Luís Reis, temos a imagem e seu pertencimento. Quando captura o instante e eterniza a imagem ele se traduz. A imagem, como uma assinatura visual, torna-se identitária no discurso do belo revelado na fotografia de Luís Reis. Um exercício pleno da mais rica composição poética.
Matéria publicada na Revista Gente de Ação. Março de 2020.