O zelo com o desenho, o rigor com a forma e as cores sempre harmônicas recriaram o tempo e o espaço vivido pelo artista. A pintura foi seu grito de denúncia contra os atentados ao patrimônio histórico. O engajamento do artista Hélio Santos teve início no exercício da arte e se fortaleceu quando viu sucumbir, vítimas da depredação e especulação imobiliária, importantes casarios do patrimônio edificado aracatiense. A lembrança do itinerário diário, circunscrito no olhar da criança, se materializou na pintura e no baixo relevo de sua obra cujo tema era a paisagem urbana e cercanias do Aracati.
Apreciar a obra de Hélio Santos é perceber essa dimensão de engajamento cultural, misto de fruição estética e educação patrimonial. As mãos habilidosas desse artista fizeram perpetuar a lembrança imagética de um tempo recomposto em linhas e cores. Essa dualidade, entre história e arte, está presente em cada espaço de seu ateliê situado à rua Cel. Alexanzito, no centro histórico de Aracati, onde antes viveu o latinista aracatiense Monsenhor Bruno Figueiredo. As relações dialógicas entre a história da rua, da casa e de sua arte tornam a visita ao ateliê um momento de rica aprendizagem cultural. Ao lado deste minimuseu máscaras, bonecos e outros elementos teatrais evidenciam sua paixão pelo teatro de bonecos. Os nomes, as obras, a casa, a pessoa são evidências de seu comprometimento com a arte e a cultura aracatienses. A estética de Hélio Santos foi e é responsável pela formação de vários artistas com os quais dividiu e divide espaço com o mesmo entusiasmo das primeiras horas dedicadas ao exercício artístico. Tanto que não há como descrever a arte aracatiense sem considerar a contribuição dada por esse artista na formação estética local.
A lembrança da infância é seu roteiro preferido é dela que se alimenta quando pinta, quando constrói bonecos, quando fala apaixonado sobre sua terra natal. É comum encontrá-lo rodeado com varandas e janelas da Terra dos Bons Ventos como num eterno retorno a lembrança de suas caminhadas na Rua Grande.
Amarelos, azuis, verdes e vermelhos tornam vivas as imagens que pulsam para além da matéria. Os quadros em baixo relevo trazem janelas e varandas de gente importante e simples que habitaram a cidade de Jacques Klein, de Adolfo Caminha, de Raimundo Herculano de Moura. Cada obra refaz esse guia de lembranças, reforça esse ideário ideológico e encanta pela sublima delicadeza. O observador sem a noção desse caminho não sabe por que é arrebatado pela emoção que elas suscitam. Delas imagina-se a observar por entre os pórticos e vitrais a vida que passa.
Matéria publicada na Revista Gente de Ação (ANO XVII • Nº 160 • JULHO 2018).