Aracati

Tuesday, 13 April 2010 19:36

A CASA DE ADOLFO CAMINHA

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Aracati é uma das mais belas cidades do Nordeste. Uma ferradura, por certo, de que todo o Ceará se orgulha. Pátria de Jacques Klein e de Beni Carvalho; terra adotiva de Egídio Barreto; menina dos olhos de Inocêncio Uchoa e de Alfredo Valente, em terras de Aracati fica encravada também a Praia de Canoa: mágica Canoa, lógica Canoa, que não se quer despregar da imaginação e dos olhos. 

Filha do abraço do mar com o Rio Jaguaribe, Aracati foi no passado (e ainda é no presente) a porta de entrada do Ceará em busca do Sertão, assim como o ponto de partida da velha Ribeira do Icó, estrada principal da colonização e do povoamento mais ou menos regular da hinterlândia cearense. 

E quando no Ceará a Liberdade e a República se fizeram uma realidade concreta contra a opressão imperial, foi em Aracati que os homens de Tristão Gonçalves edificaram a Capital da Província, instalando ali a sede da Confederação do Equador, quiçá a maior de todas as nossas ousadias políticas e o mais heróico de todos os nossos movimentos históricos. 
 
Possui Aracati, assim, um dos nossos mais arrojados patrimônios, não sobretudo histórico, tão-somente, mais fundamentalmente cultural e arquitetônico: o recorte centenário de suas Igrejas e de seus Casarões, às vezes os beirais e cornijas de suas fachadas, às vezes os lambris e os jacarés de suas austeras residências. 
 
Tudo, no entanto, com exceção talvez de um outro caso, se vai morrendo à míngua dos olhos omissos e quase totalmente cegos dos poderes públicos de Aracati e da Secretaria de Cultura do Estado, pois em Aracati o patrimônio que se vai tombando, se vai igualmente abandonando à corrosão do tempo e da história. 
 
E como dói, em mim, sentir Aracati e não poder falar. E como dói, em mim, rever Aracati e ver desmoronar a Casa-Monumento onde Adolfo Caminha nasceu, ele que foi e que é o maior de todos os seus filhos. E justamente ele que a cada dia, mais e mais, firma-se como um dos grandes escritores do Brasil, e como glória cultural, também, da nossa côrte literária no Exterior. 
 
Não. Não quero acreditar que os poderes públicos de Aracati, que a cidadania ativa de Aracati, que os homens de boa vontade de Aracati, que a Secretaria de Cultura do Estado e que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional deixarão criminosamente ruir a residência onde o escritor Adolfo Caminha nasceu. 
 
E Aracati, o que fez (ou o que faz agora) para preservar a casa onde Adolfo Caminha nasceu ou para restaurar o patrimônio histórico que lhe é afeto? E quem, na Prefeitura de Aracati ou na Secretaria de Cultura do Estado, se sente incomodado (ou provocado) a responder a esse desafio? 

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O Grupo Lua Cheia, com sede na cidade de Aracati-CE, é um coletivo de artistas formado em 1990 com o objetivo de fomentar, divulgar e pesquisar a arte e a cultura.