Aracati

Wednesday, 18 March 2015 04:21

RESGATES DE UMA RETINA: FOTOGRAFIAS DE MARCOS AURÉLIO PACHECO (1965-2001)

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RESGATES DE UMA RETINA: FOTOGRAFIAS DE MARCOS AURÉLIO PACHECO (1965-2001) Marcos Aurélio Pacheco

Escrevo esse texto ao som de Sentinela, do Milton Nascimento. Acho importante informar porque tudo que diz respeito ao que vou contar é extremamente sentimental. Esse disco faz parte do arsenal de memórias que tenho de meu pai, Marcos Aurélio Pacheco Costa. Meu pai, fotógrafo, artista. Por muito tempo me perguntei se a ele agradava esse título... Tinha problemas com visibilidade. Hoje eu posso entender o sabor de fazer arte e produzir para si, mas a sua produção é de tal maneira profunda, complexa, nem sei, linda de se revisitar – como tenho feito nos últimos anos –, que o mínimo que sua obra merece é ser vista.

Meu nome é Elisa Maria, Elisa meu pai escolheu em homenagem a Beethoven, Maria à minha vó paterna. Muito poético, eu acho, abrir qualquer caixinha de música e lembrar do meu pai. 

Assim como encontrar com o acervo de Aurélio me é intenso, são também as suas fotografias. Cheias de lembranças de amores, das farras da juventude, de retratos de uma loucura interior, de crítica social profunda. Meu pai teve um olhar antropológico sobre Aracati, sem o critério acadêmico de distanciamento do que é analisado. Fotografou a enchente de 88 como quem procurava e via beleza naquele caos, e com cuidado com aqueles que sofriam. 

“Viver significa ver”, ele grifou essa frase na sua edição de “A Insustentável Leveza do Ser”. Mas, além disso, para Aurélio, viver significava ver através das lentes, no papel queimando, revelando o positivo no laboratório. 

Interessante o cuidado que ele teve com o próprio acervo, exceto no que diz respeito a trabalhos encomendados, como casamentos – mas já ouvi dizer que isso é muito comum entre fotógrafos. O que é de mais afetivo está bem guardado. 

Pois bem, vendo por essa ótica, o que está bem preservado das fotografias, do mais antigo ao mais recente, são seus primeiros experimentos com fotografia. Em vários formatos, mas quase sempre coloridas, essas fotografias têm tons esverdeados, e passam por retratos de família a autorretratos, sendo um deles o meu preferido. Em seguida, ele fotografou durante um longo período em preto e branco. Dessas, temos também retratos de família e autorretratos – mas bem mais amadurecidos. Dessa fase, gosto bastante da série feita de uma namorada, e outra na casa de amigos. 

Ele flertou um tanto com fotojornalismo, arrisco dizer pelo seu registro da enchente de 88. Foram muitos os filmes usados nesse momento, em comparação com o restante do acervo. 

Em seguida, temos a última fase, de fotografias familiares. A minha mãe e sua família, eu e minha irmã quando bebês. Muito apaixonado, como sempre. Poucas pessoas podem dizer que possuem um álbum de primeiros meses tão grosso quanto o meu. 

Esse texto vem no sentido de abrir o caminho para vários projetos que estão por vir. De resgates dos arquivos de Marcos Aurélio, e também de criação em conjunto, eu e ele. 

Comecei o blog “Resgates de uma retina” quando minha mãe, Silvana, digitalizou metade dos negativos guardados. A logo do projeto é baseada na memória que eu tenho da tatuagem de um olho que ele tinha no braço. 

Espero que essa imersão seja também profunda a quem interessar a curadoria que fiz do acervo de Aurélio. 

Com muito carinho, 

Elisa Maria Pacheco

http://resgatesdeumaretina.tumblr.com/

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O Grupo Lua Cheia, com sede na cidade de Aracati-CE, é um coletivo de artistas formado em 1990 com o objetivo de fomentar, divulgar e pesquisar a arte e a cultura.