Essa peleja entre os dois personagens simbolizava a disputa do Bem contra o Mal.
Ao sair os cordões de cena, entrava então dançando a florista, a pura e inocente mocinha que, displicentemente, passeava pelos jardins, colhendo flores e cantando alegremente louvores à vida. De repente, dum salto, surgia no centro do palco a figura horripilante do Cão Zé Batata, vestido com um macacão preto colado ao corpo, arrastando um imenso rabo que balançava de um lado para outro, fazendo acrobacias macabras num jogo de sedução, assediando a ingênua mocinha.
A intenção do Cão Zé Batata com sua lábia envolvente e sedutora era cometer o pecado. Era levar consigo para o Inferno a doce e bela mocinha que passeava pelo jardim inocentemente. Quando já estava quase conseguindo envolver e seduzir a mocinha para acompanhá-lo ao “lar e quente lar” do inferno, conduzindo-a pelas mãos avermelhadas da fantasia, era bruscamente surpreendido pela aparição do Anjo Gabriel, de espada em punho. Sobressaltado pela presença do Anjo Gabriel e a força da sua espada justiceira; o Cão Zé Batata se quedava de joelhos ao chão em sinal de submissão, prostração e derrota, com a ponta da afiada lâmina do agente do Bem cravada nas costas. Desamparado e vencido pelo Anjo Gabriel, vendo fugir entre as flores do jardim sua linda presa que estivera tão perto de ser sua, somente sua, a linda e cândida mocinha do jardim florido da vida, e, sendo obrigado a ajoelhar-se mais ainda, rastejando pelo chão acovardado pela força dominadora da espada do Bem do Anjo Gabriel, o Cão Zé Batata, ao ver pela última vez sua linda mocinha desaparecendo pela cortina do palco, entrando nos bastidores, não se continha e, num derradeiro esforço, contorcendo-se todo virava o rosto, fazendo uma careta dantesca para encarar o Anjo Gabriel resmungava:
- Oh! Gabriel. Oh! Gabriel, deixa de ser Escroto.