Aracati

Wednesday, 04 May 2016 07:21

O MAJOR E A MAJORLÂNDIA

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Major Bruno e praia de Majorlândia. Aracati-CE. Major Bruno e praia de Majorlândia. Aracati-CE. Fotomontagem.

 

O Sr. Antônio Rodrigues da Silva Figueiredo, grande comerciante no Aracati, conhecido por Cel. Figueiredo, era casado com Philomena Porto da Silva Figueiredo, com quem teve sete filhos, dentre os quais, Bruno. 

De todos os filhos do Cel. Figueiredo, o menor e mais desprovido de carne era o Bruno que, ainda adolescente, recebeu o apelido de "Major" (que, em inglês, significa maior). O apelido "pegou" de tal maneira que, mesmo depois de adulto e casado, ninguém o chamava de seu Bruno ou Sr. Bruno, mas simplesmente Major Bruno, o apelido sempre grudado ao nome. Essa é a versão da família; porém, há uma outra, registrada no livreto "Aracati e Seus Tipos Populares", de Josias Correia Barbosa, em 1943. 

  

ALCUNHA: MAJOR 

  

Josias conta, com riqueza de detalhes, como o pedinte conhecido por Cabra Homem, que na juventude fora militar, exigia esmola de maneira autoritária, chamava as pessoas ricas pelo nome e sempre com uma patente de oficial. Exemplifica, contando que quando Cabra Homem chegava na loja de seu pai, gritava alto: "Major Correia, minha esmola!" Diz Josias: "Foi por esse tempo que começou a batizar com o nome de Major Bruno o então Bruno Porto da Silva Figueiredo. Se não fora Cabra Homem, o nosso estimado Major Bruno não teria ganho a patente, pela qual hoje é conhecido". 

  

A meu ver, uma versão não invalida a outra, se o fato aconteceu simultaneamente: Cabra Homem pode ter ouvido alguém da família chamando-o de Major Bruno ou a família ouvido o mendigo e, por zombaria, o "batizou" com aquela patente. O certo é que a patente o acompanhou até morrer. A bem da verdade, é bom que se diga, jamais alguém disse ter notado algum constrangimento ou aborrecimento do Bruno por causa daquele título antes do nome. Muito ao contrário, os amigos só o chamavam Major. Simplesmente Major, ao que ele prontamente atendia. 

  

MAJOR E PREFEITO 

  

Quando prefeito do Aracati no período de 1922 a 1926, criou uma escola municipal, por acreditar que somente a educação com boa instrução melhoraria o nível social e financeiro do aracatiense. Assim pensando, procurou contratar os melhores professores de Fortaleza, levando-os para morar no Aracati. Para diretor, foi contratado o Professor Joaquim Moreira de Souza que, anos depois, foi secretário da Secretaria de Educação do Estado. Era irmão do Dr. Francisco Moreira de Souza, saudoso médico e fundador do Náutico Atlético Cearense. 

  

Major Bruno possuía salina no distrito Icapuí, hoje município, e sempre que lá ia, a cavalo, tomava por uma "estrada" natural que, saindo da cidade, passava pela várzea, seguia pelo lugar conhecido por Córrego dos Rodrigues, subia as dunas, descia para a praia e continuava até Icapuí, quando a maré estava baixa. Com a maré alta não havia como chegar lá, por falta de estradas. A única opção era a praia/estrada. 

  

Certo dia, o Major procurou saber de quem eram aquelas terras e as dunas que ele atravessava quando ia a Icapuí. Depois de tomar conhecimento sobre quem era o dono, procurou-o e comprou as ditas terras e dunas por dois contos de réis (hoje seriam dois mil reais???). Pagou e tomou posse. Logo depois, ao tentar passar as escrituras no cartório, ficou sabendo que não podia fazê-Io por falta de inventário de duas gerações de herdeiros. Todavia, o Major Bruno ficou com a posse da terra e era tido como dono. Como se diz, foi uma posse mansa e pacífica. 

  

Hoje, as terras então adquiridas são conhecidas nacionalmente por Majorlândia, nome dado pelos amigos do Major Bruno, que significa "Terra do Major". 

  

A MALÁRIA EM ARACATI 

  

Em 1936 ou 1937, grassou uma epidemia de malária na cidade de Aracati, tendo como vetor um inseto pernilongo, o anófeles, de hábitos noturnos, que o aracatiense chamava de muriçoca. O Major, que havia construído uma grande casa de praia em sua propriedade de nome Majorlândia, com tantos quartos quantos eram os seus filhos, levou a família para lá. Muitos amigos do Major também queriam ficar fora da cidade, por medo da doença e ele, que tinha o coração maior que o corpo, foi autorizando que construísse, cada um, uma casa na sua Majorlândia. 

  

Com a epidemia aumentando, o Instituto Oswaldo Cruz, de Manguinhos, com sede no Rio de Janeiro, então Capital do País, mandou uma equipe de técnicos ao Aracati, para coordenar o combate ao mosquito vetor do Plasmodium, protozoário causador da doença. Os hábitos e ciclo biológico do mosquito haviam sido estudados pelo fundador da instituição. Também foram vários técnicos americanos, com verbas especiais para ajudar a debelar aquele surto epidêmico e treinar as técnicas de combate ao mosquito e a doença. Conseguiram, a muito custo, acabar com os pernilongos, enquanto as pessoas doentes recebiam quinino para se curarem. O quinino era o único remédio, na época, para matar o protozoário que causa a malária. Essa doença era também chamada de sezão ou de impaludismo, por pensarem ter origem nas águas poluídas dos lagos, até Oswaldo Cruz esclarecer o problema. 

  

As famílias que construíram casa na Majorlândia para se protegerem da malária, pela manhã voltavam à cidade para trabalhar ou levar os estudantes às aulas. Ao fim da tarde iam para Majorlândia, onde dormiam tranquilos. 

  

NASCIA MAJORLÂNDIA 

  

Acabado o surto epidêmico todos, inclusive o Major Bruno, retornaram à vida normal da cidade, mas nos fins-de-semana e feriados, todas as casas eram ocupadas e muitos iam lá, mesmo sem abrigo, para tomarem banhos de mar. Major Bruno constatou que, com muitas casas, se tornaram mais agradáveis os períodos de férias e fins-de-semana, não só para ele, que tinha amigos para conversar, mas também para seus familiares. E as autorizações do Major continuaram... 

  

Nascia, assim, a Majorlândia como hoje a conhecemos, um povoado de médio porte, com dezenas de ruas e uma grande população, sendo uma parte de residentes fixos e outra ocasional. 


Fonte: Fernandes, Leônidas Cavalcante. Aracati: o que pouca gente sabe. Rio — São Paulo — Fortaleza: ABC Editora, 2006. 

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