Aracati

Saturday, 20 February 2016 23:52

O CLARIM DA LIBERDADE

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Prelo do Clarim da Liberdade. Prelo do Clarim da Liberdade. Museu Jaguaribano. Aracati-CE

 O primeiro jornal, que o Aracati possuiu. Redator e proprietário Joaquim Emilio Ayres, conhecido por Ayres da Michaella, anteriormente Joaquim Ignacio Wanderley, natural de Alagoas. 

 O primeiro número é de 10 de dezembro. Impresso por Anna Joaquina do Sacramento Ayres à rua do Bonfim nº 11. À direita do emblema representando um clarim trazia a epígrafe: 

  

Constante denodado 

No meu clarim cantarei 

Ou a pátria federada 

Ou a vida perderei. 

  

Era órgão contrário à política da família Castro e escrito em linguagem demasiado acre. Uma de suas vítimas foi o general Labatut, e da virulência dos ataques, que o alvejavam dão a medida as primeiras linhas, que aqui consigno de um documento contemporâneo, um Manifesto dos Oficiais da Expedição Fluminense, que encontrei na coleção Gonçalves Dias existente no Arquivo Nacional: “Os abaixo assinados, como órgão de toda a Expedição Fluminense, sobremaneira magoados dos insultos e calúnias que contra toda ela vomita o anárquico redator do “Clarim da Liberdade” em vários números do seu infame periódico, e muito mais sentidos dos ataques brutais feitos a V. Ex.ª  cuja honra, desinteresse, limpeza de mão bem conhecida de todo o Brasil além de outros serviços prestados à Independência do Império que aquele ignóbil redator de calúnias e vitupérios totalmente achincalha”. 

  

Esse manifesto, que é datado do quartel da vila do Icó em 14 de novembro de 1832 e traz a assinaturas de 16 oficiais, finaliza nos seguintes termos: “Estes pois os sentimentos ingênuos, os francos e ansiosos desejos da Expedição Fluminense, esta também é o único meio de desmentir cabalmente tão calunioso escritor e a vil e desprezível súcia, que o anima e excita”. 

  

Auxiliou muito a Ayres um português de nome Cantafino, que foi mais tarde tabelião em Aquiraz. 

  

É de presumir ter sido Cantafino o professor da arte tipográfica em Aracati. 

  

A tipografia foi mandada vir para Emilio Ayres pelo negociante Domingos José Pereira Pacheco, que mereceu do beneficiado o seguinte elogio: 

  

“O aparecimento deste Clarim nesta Vila do Aracati, é devido ao Senhor Domingos José Pereira Pacheco, a quem comuniquei que a Pátria exigia que eu me propusesse a combater os abusos, que maus Governantes têm introduzido na Sociedade, fazendo-os passar como Lei: mas Lei só para seus interesses, porém que não podia pôr em prática por falta de instrumento próprio (a Imprensa) que fizesse recuar por toda parte, os incalculáveis males, que tem produzido tais abusos, e que produzirão se não forem corrigidos: e logo Senhor Pacheco, com sua costumada generosidade, me franquiou os meios, de obter o instrumento, prestando-me a soma necessária, para comprar, sem interesse algum; e ainda mais generoso se mostra quando me diz que a soma prestado lhe seja paga à proporção do rendimento da Imprensa. Uma tal generosidade, muito duvido que seja imitada, por outrem que não seja o Senhor Domingos José Pereira Pacheco, a quem os cearenses, e em particular os aracatienses são hoje em dia devedores da existência de um órgão pelo qual podem manifestar suas queixas das violências, e vexações, que um ou outro mandam lhes faça. A gratidão, e estima Pública será a recompensa de tamanha generosidade do Senhor Pacheco”. 

  

Comprada em 1834 por Alencar, foi entregue a Jorge Accursio e Silveira, que a reuniu à tipografia do “Semanário”, ficando assim mais habilitado a publicar os atos do Governo e da Assembleia Provincial. 

  

Quando morreu esse jornal, recitavam os garotos: 

  

O clarim da liberdade 

De cantar enrouqueceu; 

Nem a pátria federou 

Nem a vida se perdeu. 

  

Emílio Ayres faleceu em Príncipe Imperial a 25 de fevereiro de 1850. 

  

Depois de atravessar as províncias de Pernambuco e Paraíba e Rio Grande do Norte viera ter ao Aracati sob nome mudado. Em Aracati aliou-se em política à família Castro; não muito depois desavindo-se com ela, uniu-se aos Caminhas, com os quais, aliás, também rompeu. Aí casou-se em 1825 ou 1826 com D. Anna Joaquina do Sacramento, filha do português Custodio Ribeiro Guimarães. 

  

Exercia as profissões de advogado e médico. Acusado pelos adversários de exercer ilegalmente a medicina, foi até a Bahia e obteve carta de cirurgião; de vota entregou-se de corpo e alma à política conservadora e desempenhou o cargo de suplente de juiz municipal e o de juiz de paz, sendo que nessa qualidade obrigou a aprenderem um ofício todos os rapazes da localidade sem ocupação, ato muito para o recomendar. 

  

Foi também deputado provincial. 

  

Partidário infrene, tinha por si levas de exaltados, que o adulavam e defendiam, como o prova o fato seguinte, noticiado pelo “Cearense Jacaúna”: 

  

Pessoas e cartas vindas do Aracati referem um caso ali acontecido, que a ser real, aquele Estado ameaça ruína. Apareceu uma denúncia que um assassino procurava assassinar o Redator do Clarim, foi logo preso o homem indicado, que milagrosamente escapou de ser morto cruelmente depois de preso, mas a sua existência foi conservada por poucas horas. Algemado e acorrentado foi recolhido a prisão, e a sua rede armada defronte da grade, e como era facinoroso, pôs-se-lhe  guarda, e quatro sentinelas ocupavam quatro pontos, porém tanta cautela e vigilância foi frustrada, não porque o preso fugisse, que sem ela estaria seguro, mas porque dois invisíveis pelas tantas da noite chegaram à grade e desfecharam dois tiros sobre a misérrima vítima, que imediatamente exalou os espíritos vitais pelas bocas, que lhe abriram as balas. 

  

Nada pode haver mais escandaloso, e a ser realidade, repetimos se o Exmo. Sr. Presidente não deixar aquele Estado ocupado por um forte exército, ao menos de vinte praças, comandado por um hábil General, ver-se-ão ali representadas as desgraças de Tiro no reinado de Pigmaleão. (D’O Cearense Jacaúna nº 216, 1834). 

  

Deixou vários filhos e filhas, das quais três, sei, se casaram com José e Francisco Monteiro da Silva e Luiz Gonzaga de Menezes Lyra. 

  

Jorge Accursio, que mais tarde, em 1838, tomou parte importante na direção do Correio da Assembleia Provincial, nasceu na ilha de S. Jorge, uma dos Açores, e era filho de Pedro de Souza da Silveira e D. Joanna Vieira Bitancourt Accurcio. 

  

Depois de ter estado duas vezes nos Estados Unidos da América veio para Pernambuco, onde se casou em junho de 1821. Cidadão brasileiro por estar no país na Independência, veio para o Ceará a 19 de dezembro de 1824 e aqui ocupou os lugares de agente do correio, tesoureiro das verbas do selo, intérprete das línguas francesa e inglesa junto ao Governo e Alfândega, professor de letras em Aracati e de francês em Fortaleza e guarda-mor da Alfândega, cargo de que o demitiu Manoel Felizardo. Fez parte do corpo docente com que se fundou o Liceu do Ceará a 18 de outubro de 1845. Compôs um Epítome da Gramática Portuguesa para uso das escolas de primeiras letras. 

  

Foram seus genros Leocadio da Costa Weyne, oficial do exército e João da Costa Weyne, que foi guarda-mor da Companhia Cearense da Via Férrea de Baturité. 

  

Clarim da Liberdade era o nome de um jornal aparecido no Rio de Janeiro, Tip. Lessa & Pereira, no mesmo ano do Jornal de Ayres, 1831-1833. 

 

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