Passei dois dias agora em Aracati e a minha impressão é a de que tal não aconteceu. Tudo me parece não passou de um sonho agradável. Pelo menos –garanto-o – nessas quarenta e oito horas não vivi no mundo, não existe no planeta, a terra de Felismino Neto- (Antônio Felismino Neto, eleito Deputado Estadual em 1934 pela Liga Eleitoral Católica, fazendo parte na ocasião do grupo de deputados chamados naquela época “dezesseis de bronze”.) um dos homens mais honestos que Deus criou- é carregada de história.
Por isto mesmo é que dorme profundamente, pois que ninguém pode admitir o passado em atividade.
Sentem-se em Aracati a sonolência, o repouso, a calma confortadora. Entrei numa sorveteria-bar, (na Rua Cel Alexandrino onde hoje funciona a farmácia Farmanato, vizinho a Casa de peças Assis Nogueira) sentei-me a um canto e em vão esperei ser atendido). O dono do estabelecimento – de óculos, gravata e suspensórios – não tomou conhecimento da presença do estranho freguês. Não me deu a menor confiança. Soube depois que o respeitável cidadão (Sr. Pompeuzinho Costa Lima) é pai do deputado Abelardo Costa Lima, atual Presidente da Assembleia Estadual.
É assim a Capital do Baixo-Jaguaribe. Silêncio, falta de pressa. Para quê? Ali é como se cada habitante tomasse a sua repousante dose de morfina com o café da manhã. Gostei imensamente de Aracati: Ruas largas e compridas, boa arborização no centro.
Perto, manso e belo, corre o Jaguaribe. Se um menino lhe despejar uma bochecha d’água, o rio imediatamente passará o barranco e fará uma inofensiva lavagem na cidade.
É cidade poética e agasalhante. Não precisa de polícia, nem de coletor, nem de autoridade de qualquer espécie.
Agora mesmo – Veja-se que beleza! - o delegado dali meteu o Juiz de Direito na cadeia. É que os dois estavam desocupados.
Aracati, por final, é o lugar melhor do mundo para se morrer!
(Texto do jornalista Caio Cid com notas de Antero Pereira Filho.)