Antes, somente a família do memorialista Antônio Monteiro e de seu irmão, relojoeiro, Lino Monteiro possuíam essas imagens, posteriormente repassadas conscienciosamente para a coleção do Instituto do Museu Jaguaribano e da professora Aldeize Ponciano, respectivamente. O primeiro acervo era composto por centenas de negativos em vidro e acetado e algumas imagens em papel; o segundo por imagens reveladas em papel fotográfico. Essas imagens falam sobre o povo aracatiense, sua cultura, sociedade, política e religião. Imagens de gente importante, anônima e simples. Quem as fez capturou de seu tempo as práticas e os ritos eternizados no instante fotográfico. Quem as fez revelou-se detentor de um olhar antropológico cujas pistas nos ajudam a perceber nuances sutis do povo aracatiense. Quem as fez deu lugar ao contraste redentor de sua criação e sucumbiu no silêncio imanente da imagem.
Procuro, entre os seus, algumas linhas que possam apresentar o Abilio criança, o jovem, o adulto que se formou. Da ironia de nossa falta de memória, chegam-me parcas letras. Elas dizem sobre seu nascimento em 17 de setembro de 1882; que se casou com Francisca Figueiredo Monteiro; que era católico e pertencia a Irmandade do Santíssimo; que foi procurador do município de Aracati; que foi escrivão da Coletoria Federal; que faleceu em 04 de setembro de 1960.
A obra que produziu diz mais que a ausência de uma biografia. Curtimos a fotografia na rede social. A imagem está lá disponível, porque fora digitalizada. A cada "like" que depositamos nas postagens de Netinho Ponciano, um amante confesso da obra de Abílio, perfilamos a nós mesmos. No mesmo ângulo de visão dele, nos posicionamos e observamos atentos. Nem sempre seremos capazes de entender suas motivações, entretanto somos arrebatados por seu olhar. Em cada foto em preto e branco, é o olhar de Abílio Monteiro que vemos eternizado.
Obra de Abílio Monteiro
Para visualizar a obra de Abílio Monteiro, acesse a página de Netinho Ponciano no facebook. Disponível em: