Numa madrugada fria e saudosa na cidade de Campina Grande onde estudava, pelos idos anos de 1970, estava reunido com vários colegas também cearenses, na nossa república da rua João Suassuna como fazíamos todas as sextas-feiras, procurando aliviar as saudades ouvindo as rádios do Ceará; especialmente uma que não me recordo o nome agora, onde havia um programa na madrugada chamado “Clube do Teteu” comandado pelo radialista Colombo Sá.
Devido à distância e as serras que circundam a cidade de Campina Grande, a transmissão radiofônica naquele tempo quase não chegava, sempre fugindo, quase não se ouvia. Muitas vezes passávamos horas tentando sintonizar o rádio e das muitas vezes não conseguíamos. Era mais uma madrugada de desolação e decepção.
Mas naquela sexta-feira, na madrugada fria e saudosa, quando já estávamos quase sem esperança de sintonizar o “Clube do Teteu” de repente a onda hertziana da radio cearense encheu aquele pequeno apartamento com a voz conhecida do conterrâneo Colombo Sá declamando uma poesia linda que a todos nós emocionou. Ao final da declamação o locutor declinou o nome do autor da poesia: Índio Moreno.
Parei de emoção e gritei de dentro daquele minúsculo apartamento de estudante para toda Campina Grande que aquela poesia era de um poeta da minha terra, meu querido Aracati.
Naquela madrugada bebi todas as que tinha direito... A emoção não me deixava parar... Eu queria ouvir uma vez mais para matar a saudade que me corroía a Alma.
Algum tempo depois ao chegar ao Aracati e encontrar o poeta Raimundo Herculano, contei para ele a emoção que vivi e senti ouvindo sua poesia na distante e fria madrugada de Campina Grande.
Um dia já morando em Aracati recebi das mãos do poeta seu belo poema com os seguintes dizeres:
“Anterinho amigo, eis aí uma cópia do soneto que o amigo através de uma emissora de rádio, quando estudante universitário em Campina Grande –PB, ouviu recitar. Leia-o, recordando aqueles bons tempos, e rasgue-o. Raimundo Herculano, em 26/03/84.”
Estimado Poeta, essa lembrança sua permanece comigo até hoje, e já se vão 23 anos, conservada do mesmo jeito como você me presenteou.
Uma Saudade a Mais.
Anterinho.
Anseio
Por Índio Moreno
Vênus tostada, ó sol de minha vida,
Rosa morena do jardim do amor,
Vem, que, de tua boca enrubescida
Quero libar dos beijos o sabor.
Vem, mulher, oh, vem, lânguida, despida,
Me deleitar com o sensual vigor
De tua carne rija apetecida!
Quero beijar teu seio lindo, em flor!
Sinto do gozo a fervida doçura;
Mas os meus membros de luxúria cheios,
Fremem no espasmo da viril loucura!
Quando eu morrer, mulher, (são meus anseios),
Quero ter minha eterna sepultura
No côncavo moreno dos teus seios!
Aracati (CE), julho de 1934