Vale lembrar que, em nada, o modo de ser e fazer desses povos, se assemelhava ao modo de vida dos nativos. Na marcha de povoamento do vale do Jaguaribe, segundo o historiador Raimundo Girão, os colonizadores se depararam com os Paiacus, entre outros povos nativos. Esses indígenas, de forma aguerrida, lutaram contra a ação dos invasores defendendo a sua terra e seus costumes. Dos indígenas herdamos o espírito guerreiro, a arte de trabalhara cerâmica, de trançar a palha da carnaúba e cipós, de tecer fios de algodão para feitura da rede de dormir, entre outras. Os indígenas também domesticaram diversas plantas entre estas a mandioca, tão comum na nossa culinária; o milho, a batata-doce, o jerimum, o feijão, o caju, além de cuias e cabaças utilizadas como utensílios domésticos.
Nesses encontros e confrontos entre colonizadores foi sendo forjada uma cultura que identifica o modo de ser e viver do povo jaguaribano. Em Aracati, na "cidade velha" (núcleo inicial que deu origem a cidade), podemos verificar as rugosidades que resistem ao tempo e expressam a marca produtiva de uma sociedade que se esforçava em habitar esse pedaço do mundo, adaptando-o às suas necessidades e gostos estéticos. Nesse esforço, as sociedades pretéritas identificaram na natureza os elementos essenciais para construir a cidade. A carnaúba e a argila, encontrados em abundância na região, são alguns exemplos de elementos da natureza, muito utilizados na fabricação de objetos empregados na edificação dos casarões coloniais.
Embora reconheçamos esse esforço da sociedade em se adaptar ao meio, outras influências de culturas distantes são identificadas nesse processo. Verificamos nos sobrados da cidade de Aracati a influência lusitana impregnada no espaço e que nos remete a cultura moura. Em sua clássica obra "Casa Grande e Senzala", Gilberto Freyre faz a seguinte assertiva: "Os artífices coloniais, a quem deve o Brasil o traçado de suas primeiras habitações, igrejas, fontes e portões de interesse artístico, foram homens criados dentro da tradição mourisca. De suas mãos recolhemos a herança preciosa do azulejo (...) o azulejo mourisco representou na vida doméstica do português e na do seu descendente brasileiro dos tempos coloniais a sobrevivência daquele gosto pelo asseio, pela limpeza, pela claridade, pela água, daquele quase instinto ou senso de higiene tropical, tão vivo no mouro".
Sob a influência lusitana foram edificados os sobrados, as casas térreas, os armazéns da Vila de Santa Cruz do Aracati. Diversos materiais foram absorvidos da cultura moura pelos portugueses e transmitidos ao Ceará. Em Aracati, destaca-se a arte do azulejo que tanto relevo tomou em nossos casarões. Percebemos esse hábito trazido na memória do colonizador e tão presente no cotidiano da vida colonial que perdura até hoje na cultura popular.
Referência bibliográfica | MARIA EDIVANI SILVA BARBOSA (Brasil). A influência dos mouros e dos indígenas em Aracati. Informativo do Centro Aratiense, Fortaleza, 26 dez. 2009. p. 4-4.