Zé Batata foi o maior, o melhor e mais representativo Cão de pastoril que já houve no Aracati. O artista Zé Batata interpretava, no pastoril, que se apresentava todo final de ano na Praça dos Prazeres; o Cão, personagem dos mais queridos por todos quantos se exibiam naquele auto pastoril, por causa do seu jocoso desempenho. A grande luta travada no palco do pastoril era a batalha entre o Cão Zé Batata, de aspecto horroroso, mostrando um só dente na sua imensa bocarra e o anjo Gabriel, representado, geralmente, pela moça mais bonita e cheia de candura entre todas as que compunham a trupe do pastoril.
Em 1945, o Centro Aracatiense publicava "Aracati e seus tipos populares" obra de Josias Correia Barbosa. O relato antropológico da cidade de Aracati se faz presente na descrição minuciosa de personagens anônimos- reminiscências da infância do escritor- imortalizados em sua crônica.
"De quantas saudades é feito o homem? De tantas quanto a vista captura. De tantas quanto o desejo morde. De tantas quanto a dúvida decifra. De tantas quanto o calendário rebenta. De tantas quanto a dor soçobra. De tantas quanto a escrita exibe. De que saudade é mesmo feito o homem?"
(Saudade: Um rio que corre na retina do tempo. R. Leontino Filho in Coisas Velhas Saídas da Beira do Túmulo)
Era um homem simples, mas rei por destino. Um rei coroado pela festa dos Santos Reis. José Rodrigues da Silva, mais conhecido como Zé Preto, nome carinhoso recebido do seio familiar, preparava o dia 5 de janeiro como o mais importante do calendário. Sua ansiedade, sua preocupação, sua dúvida de que os reis viriam àquela noite, refaziam a eterna juventude contida em sua alma, transformava-o em criança.
O mundo é feito de histórias. Histórias que são difíceis de acreditar e até de duvidar. Histórias de um tempo cuja letra se escreve em vestígios deixados há muito tempo.
A notícia vem de Belém do Pará: um garoto de 11 anos de idade vingou a morte do pai, na mesma hora em que este morria assassinado, aos 43 anos, com 17 facadas. O garoto, que assistiu ao crime, vendo as vísceras de seu pai expostas, misturadas ao barro da rua, correu para sua casa.
Havia mais de uma semana que o navio da Cia. Pernambucana de Navegação comandada pelo Capitão José Santos, estava no porto do Aracati recebendo carga para seguir viagem com destino ao sul do País.
Em 1972, Raimundo Herculano de Moura escreveu uma de suas mais belas crônicas. A pena do poeta aracatiense deslizou entre a tristeza e a saudade do amigo Chico de Janes que falecia naquele ano.
Os devotos de São Sebastião aguardam no Bonfim. O andor ornado com flores e folhas de laranjeira destaca a figura do soldado convertido em cristão. A rua grande abre caminhos para uma gente que outrora não passaria por ali. Mas o novenário e a procissão dizem que todos são iguais para além de sua aristocracia, quiçá da fé e devoção ao santo mártir.
O Grupo Lua Cheia, com sede na cidade de Aracati-CE, é um coletivo de artistas formado em 1990 com o objetivo de fomentar, divulgar e pesquisar a arte e a cultura.