O sino entoa repiques festivos, o cortejo se posiciona; no ombro homens de mesma estatura, de mesma fé, com promessas distintas, carregam o andor como penitência para alcançar uma graça. Muitos dos quais se revezarão ao longo da avenida, porque isto ocorreu há décadas entre gerações. No alto do andor São Sebastião tem olhar altivo, fé inabalável. A imagem faz-nos crer que a vida vencerá a morte.
Quase não se nota a passagem da gente que assim como Sebastião é alvejada por flechas, martirizados que são por um julgo tão terrível e cruel quanto o de Diocleciano. Lavados de dor o sangue é o choro contrito dos que seguem ladeando a imagem venerada. O tempo anuncia que a chuva não tarda chegar. Que importa? Seguem sequiosos por estar com São Sebastião, irmanados na dor que lhe tinge a alma de sangue. Quem sabe a chuva favoreça a lavagem dessa dor, drene para longe da alma o flagelo que sente a gente humilde que veio para a procissão.
O som da banda de música perfaz o tempo, séculos de cristianismo passam sonoros no coro de vozes que invocam a história de Sebastião. O tempo é marca nas lembranças dos que seguem. Um sexagenário vê-se criança; um homem imagina o tempo com seus pais; a criança se pergunta: - Por que fizeram isso com aquele homem?
Alguns vão com os pés no chão, outros com a melhor roupa guardada para as festas. Inda assim há aqueles que esperam os festejos para comprar lembranças, passear no parque, comer algodão doce, chupar pitomba, jogar pitomba, passear de roda gigante. Sagrado e profano como todas as coisas essenciais desta vida. Para além de qualquer pensamento maniqueísta a festa se completa entre os sofreres e os prazeres.
O sino da igreja tilinta em festa, a procissão se aproxima do fim. “Depois da missa vamos ao parque” sentencia um pai de família para o filho inquieto, enfastiado.
Flores de laranjeira pros devotos, rodas gigantes a girar. Refaz-se um ciclo. Viva São Sebastião!