DIVERGÊNCIA
Da lágrima caída
Remanesce a saudade de teus olhos:
- estrelas cadentes
Transeuntes cósmicos em meu ser
Dos lábios, um sorriso
Sem gosto, sem vontade
Divergido do adeus, do fim:
- metamorfose de um sonho...
Das mãos, o calor
Do aperto, do querer ficar,
Sendo preciso ir, sem ti
Para o infinito
Do corpo, tua seiva:
- esperança da estrela peregrina
Que voltará num espaço
Contíguo ao teu decurso,
Em outra forma, sem forma
Da sensação do ontem
No ir que um adeus deixou,
Prospecto do futuro
Sem divergir na saudade
Da lágrima caída,
Dos lábios num sorriso,
Das mãos no aperto,
Do corpo no espaço
Lânguido da luz que clareará
Tua lágrima,
Teu sorriso,
Tuas mãos,
Teu corpo...
(Paulo Ceziolli)
POETO SÍNTESE
Ao poeta que faz renascer
Entre mares e céu um querer
Toda força é preciso ter
Pra suportar esse não entender.
Se criar poesia é discorrer
Do holocausto do poder ser perder
Ficar calado, sua voz até prender
Quem sabe do mundo é você.
Das coisas que nascem vem me dizer
Do mundo sem esquecer
Da voz que grita por seu prazer
A imensa vontade de crescer.
(Paulo Ceziolli)
VIRGEM
A Virgem Inocência,
Que a meus olhos me fascinam
Que escorre por este teu corpo sadio;
Por toda a tua pureza
Que me faz sentir, (mesmo comigo)
Ao te tocar.
Tu tens a doce virgindade
Na mais pura realidade,
Uma inocentemente,
Do mais indecente sonho...
A Virgem Inocência
Que de tuas curvas emana
Como um perfume exótico
E embriaga o meu ser
Num tesão tão profundo,
Nessa vontade de te querer (nua),
Sem querer obstruir o teu mais profundo sentimento...
Vou te esperar!
Quero toda essa virgindade só para mim;
Quero dividir esse fogo que há em mim
Como essa chama que te queima.
Vou te aguardar!
Cada dia é um dia exclusivo,
E a esses momentos que agora, aqui vivo
Os teus segredos
Doce Inocência e Virgem
Que me aguardam em seus mistérios como um prêmio.
(Paulo Ceziolli)
CARNAVAL DE SAUDADES
Não quero ironizar, mas minha vida tornou-se um carnaval
Sinto-me efêmero, passageiro, um arlequim sem sua colombina
Agora, para mim, nada mais que uma quarta-feira de cinzas
Passou feito nuvem, uma brisa agradável, uma falsa realidade
Não sei porque dizem “eu estou na meia-idade”
Não quero estar na minha cidade, e nem outro lugar me fascina
Cheguei à mesmice: nasce um “novo” dia, igual aos outros
Escuto a mesma música, compro os mesmos cigarros
Vejo as mesmas pessoas, pra lá e pra cá, perambulando
Tantos rostos iguais ao meu... sem sentido
Um “cara” me critica e diz ser eu um idiota
Tenho palavras idiotas, pensamentos idiotas?
Qual carnaval encontro-me agora?
Cansado, estou. Exausto, sou. Perdido, estarei.
Escrevo coisas avessas, meu computador me corrige
Até ele, infiltrou-se em meu carnaval
Minhas linhas estão chegando ao fim...
E, nesse momento, começa outra vez, minha “quarta-feira de cinzas”.
(Paulo Ceziolli)
“EU”
Dilema, confusão, distorção
Imagem inativa de uma criação
Por que “eu”?
Visualizo o horizonte, descobrindo o descoberto
Ao longe, bela figura, cena obscura, na imensidão do vazio
Focalizo uma folha em branco, o que escrever
Quem sou “eu”?
Roupa nova, roupa surrada... envelhecida!
Mais um dia... ah! Que dia...
Quem diria, eu não me conhecer
Não posso me antever, nem me prescrever, tampouco me descrever
Sou assim:
Perfeito, sem perfeição
Oportuno, sem a oportunidade
Forte, com muitas fraquezas
Consciente, embora embevecido na inconsciência
Total, sem a menor pluralidade
Não sou assim:
Calmo, sem a menor tranquilidade
Preciso, sem a menor noção do ser
Capaz, sem a menor tenacidade do conhecer
Sou música, sem o instrumento
Alicerce, sem uma construção.
“EU”
(Paulo Ceziolli)
POEMA VERDADE
Sinto-me estranho, não me reconheço
Estou à beira de um desastre de identidade
Procuro me acalmar, estou estressado
O mundo em minha volta não faz sentido
Caminho por estradas desertas
Busco saber quem eu sou, não encontro respostas
Um dilema: qual é a minha vida?
Escuto uma música, me recorda muito
Vejo um filme, me traz doces lembranças
Olho fotografias, enchem-me de saudades
Há uma coisa que não consigo entender
Se o passado é meu alicerce de meu presente
E que meu presente é uma construção sólida de meu futuro
Por que estou tão desiludido?
Vou tentar me descrever em poemas
Quem sabe assim me encontro um dia.
(Paulo Ceziolli)