Bela
Quando nasceu, o sono seu primeiro
Nos meus braços, dormiu, rosada e quente,
E deitando-a no berço levemente,
Velei-lhe ainda o ressonar ligeiro.
De sua mãe ao colo o derradeiro
Dormiu, tão pálida e tão fria,
Que uma Virgem de Lourdes parecia
Entre os ramos em flor do sabugueiro.
E ela deitou-a morta – ai! Coração!
Num leito de cetim – o seu caixão,
Que inundara de lágrimas e flores!
Velou-lhe o último sono! Dor suprema!
Longe... e eu não tive essa ventura extrema!
Nem podemos unir as nossas dores!
(Úrsula Garcia)
UMA LEMBRANÇA
Eu quis levá-la ao cemitério, um dia,
Mas em casa disseram: “Tão criança”
É tão longe!... E tão triste! ... Eu insistia,
Não sabe o que é tristeza, ela, e não cansa!
A manhã é tão linda! O sol radia,
O ar é tão puro, a brisa fresca e mansa...
E um passeio ao campo. Não faria
Mal algum visitar quem lá descansa...
E eu pensava: É melhor ir caminhando,
Com seus pesinhos, rindo, conversando,
Voltar da cor das rosas que levou...
Não foi comigo... Mas lá foi levada
Numa manhã de sol... muda, gelada,
Lívida, inerte... E nunca mais voltou!
(Úrsula Garcia)