Aracati

Sunday, 01 July 2012 17:56

AVENIDA DR. LEITE

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Jardim Dr.Leite. Aracati-CE Jardim Dr.Leite. Aracati-CE

No tempo do Império, quando a Vila do Aracati ainda era a mais importante no aspecto comercial e social da Província do Ceará, a então chamada Junta da Fazenda determinou a construção de um prédio para servir de Alfândega e Recebedoria dos Impostos Provinciais, tendo as obras iniciadas em 27 de julho de 1801 e concluídas em 14 de agosto de 1802. 

O local escolhido para a edificação do imponente prédio foi a Rua do Comércio – atual Cel. Alexanzito – a principal artéria da Vila, próximo ao Cais da Ribeira, onde embarcavam e desembarcavam mercadorias e passageiros vindos do estrangeiro e de toda a parte do Império brasileiro. 

  

Apesar de sua construção ter sido concluída em 1804, somente a partir de 20 de setembro de 1835 começou de fato a funcionar a Alfândega de Aracati. 

 
Infelizmente por motivos pouco esclarecidos, em 1851 no dia 11 de novembro, dezesseis anos depois do início do seu funcionamento, foi extinta por decreto a Alfândega de Aracati, sendo o prédio utilizado por uma Mesa de Rendas Federal. 

  

A decadência que se abateu sobre a Vila de Aracati não atingiu somente as atividades comerciais e sociais que faziam da Vila a mais florescente da Província. Afetou sensivelmente o conjunto arquitetônico que embelezava a tradicional e conhecida Rua Grande pelo abandono dos seus donos que, devido à escassez de negócios, tiveram que imigrar para outras partes da Província deixando ao descaso suntuosos sobrados que tanto impressionavam os viajantes de Aracati. 

  

Com o passar do tempo e o descuido, o belo e imponente prédio da Alfândega de Aracati foi se transformando em ruína causando uma profunda tristeza pelo aspecto de decadência em que se encontrava enfeando a rua central da antiga vila, agora já cidade de Aracati, que aos poucos iniciava sua retomada por um novo crescimento. 

  

Por iniciativa do jornal Folha do Comércio, fundado em 1° de março de 1911, com redação na Rua do Comércio n° 162, foi então deflagrada uma campanha para que o antigo prédio da Alfândega de Aracati fosse demolido dando lugar a uma avenida, espaço que a cidade naquela ocasião não possuía, e que a população ansiava como uma área para lazer e divertimentos da época. 

  

“Pardieiro” foi a expressão utilizada pela Folha do Comércio na edição do dia 19 de março de 1911 para chamar a atenção das autoridades em referência ao velho prédio, que nas palavras do colunista, constituía um grave perigo para o nosso povo. 

 
Continuava o articulista: 

“Sabemos que a Delegacia Fiscal deste Estado está autorizada a liquidar esse pardieiro, mas, ou por falta de pretendente que convenha ou por descuido, não realizou ainda as ordens do governo federal. Fato é que o prédio de há muito em ruínas, se ostenta na nossa melhor via pública, ameaçando a quem por ali transita. Alguém nos garantiu que o governo local – Intendente Cel. Pompeu Costa Lima – reclamou do Delegado Fiscal contra tal perigo; mas providências definitivas não foram tomadas. O velho casarão deve ser demolido, mesmo em parte, se o quiserem aproveitar e zelar pelo bem-estar dos incautos transeuntes. Esperamos que o senhor Intendente encontre os meios de livrar-nos de tão perigosa armadilha.” 

  

Entusiasmado com a ideia de proporcionar à cidade um benefício, um melhoramento que viesse de encontro às aspirações da população, o Cel. Miguel Leite Barbosa, um dos sócios da Fábrica Santa Tereza, encaminhou uma proposta ao Ministro da Fazenda para a aquisição do edifício onde funcionou a antiga Alfândega de Aracati.  
 
A resposta não tardou e por meio de um telegrama do Rio de Janeiro para o jornal A República, que se editava em Fortaleza, o Cel. Miguel Leite Barbosa tomou conhecimento de que sua proposta de compra do velho prédio da Alfândega havia sido aceita pelo Ministério da Fazenda.  
 
Tomando para si a ideia e a iniciativa de se prover a cidade através da construção de uma avenida, o jornal Folha do Comércio em sua edição de 7 de maio de 1911, sob o título Jardins Público, assim se pronunciava através de uma coluna na 2ª página: 

“Está sendo demolido o velho casarão da rua do Comércio que noutros tempos serviu de Alfândega desta cidade e que o Cel. Miguel Leite Barbosa, há pouco comprou ao Governo Federal. Isso feito ficará no centro da cidade uma pequena praça, fácil de ser transformada num belo jardim público, onde a nossa população possa ter agradáveis horas de recreio. Esta ideia foi há tempos aventada pela imprensa e a seu lado está a maioria da nossa população, e a ocasião é propícia para o Senhor Intendente Municipal tomar a peito um melhoramento de tanta utilidade." 

  

Não podendo contar somente com os modestos recursos da Intendência, foi então criada uma comissão encarregada da construção da nova avenida, que teve a iniciativa de elaborar uma subscrição popular com a finalidade de angariar fundos para erigir o jardim que iria mimosear a cidade. 

  

Todos aqueles que tiveram oportunidade de ver o projeto da nova avenida não se cansavam de elogiar, afirmando mesmo ser “magnífico, e se executado caprichosamente, Aracati ficará dotado de um melhoramento importantíssimo.” 

  

Para as primeiras providências do início da obra não se esperou muito. Depois da retirada dos tijolos e outros materiais, que puderam ser aproveitados na reforma da ampliação que se realizava na Fábrica Santa Tereza, ficaram somente os escombros do prédio demolido que deveriam ser removidos para o aplainamento do terreno, providência que estava sendo tomada pela comissão encarregada da edificação. 

  

A empolgação tomou conta da população que presenciava o andamento em ritmo acelerado da edificação da avenida, que se tornaria uma referência na vida da cidade, palco de todas as manifestações sociais, desde os desfiles colegiais e militares em datas comemorativas, até os memoráveis comícios de grandes campanhas políticas. Isto sem mencionar, que foi por muito tempo o principal recanto de diversão e lazer dos moradores, e o cantinho preferido de românticos encontros dos namorados na nossa velha e estimada urbe. 

  

A motivação dos aracatienses com o erguimento da avenida era tão envolvente, que foi proposto através de um leitor mais entusiasmado, que o jornal Folha do Comércio encampasse um movimento, ou melhor, um plebiscito para se escolher o futuro nome da avenida em construção. 

 
Eis o que dizia a sugestão do leitor ao jornal: 

  

"Estando em grande atividade, entre nós, a construção de uma avenida no local da extinta Alfândega desta cidade; e devendo a mesma, cujos trabalhos já iniciaram, ser feita por meio de uma subscrição popular com o auxílio da municipalidade, justo é que a opinião geral predomine em tudo que a ela se refira, e por isso tomo a liberdade de vos sugerir um alvitre: - abrirdes nas colunas da Folha do Comércio um plebiscito, sobre o título que se deve dar a referida avenida. Pois observado o voto popular ninguém tem o dever de censurar o povo, ao passo que feita a coisa à vontade de poucos, alguém terá uma vez ou outra de soltar a língua." 

  

O jornal Folha do Comércio, acatando a ideia sugerida por seu leitor, abriu as suas páginas para que as sugestões fossem manifestadas; e como era mesmo de se esperar, muitos foram os nomes de pessoas e datas recomendados para a denominação na nova avenida. 

  

Os principais nomes propostos que mereceram a concordância e adesão da população foram: Avenida Dr. Pedro Pereira e Avenida 25 de Outubro. 

  

Para o nome de Avenida Dr. Pedro Pereira argumentavam os que patrocinavam essa indicação. Seria uma homenagem ao deputado Pedro Pereira da Silva Guimarães, aracatiense que no Parlamento Brasileiro em sessão de 4 de junho de 1852, ergueu a voz em prol do elemento servil. Os defensores dessa indicação reforçavam suas justificativas, relembrando fatos do passado, quando o Diretório Emancipador dos escravos de Aracati, reunidos na Câmara Municipal em 2 de junho de 1883, data em que foram libertados os escravos em nossa cidade, 5 anos antes da lei Áurea; se fez uma grande reverência ao deputado Pedro Pereira, inclusive com a ideia lançada na ocasião de se erguer um monumento em sua homenagem. 

  

A outra recomendação com bastante apoio popular foi Avenida 25 de Outubro. Numa alusão a data em que Aracati em 1842 passou então a cidade. 

  

Outras designações que foram sufragadas no plebiscito mencionavam o nome do Barão do Rio Branco e a data de 13 de maio, como sendo também merecedores da titulação da nova avenida. 

  

Enquanto os aracatienses discutiam e votavam em plebiscito qual o nome mais merecedor e justo que deveria receber a principal obra de embelezamento da cidade, os serviços da construção seguiam como noticiava a imprensa em outubro de 1911, através das colunas dos jornais: “Vão bastante adiantados os trabalhos da avenida, já estando ladrilhado o passeio central e em condições de ser cimentado. Tendo sido iniciado o ladrilho dos passeios laterais.” 

 
ACONTECEU... 

Aqueles que estiveram presentes, embevecidos, jamais esqueceram daquele domingo 5 de novembro de 1911, quando os dobrados e marchas da Banda Zaranza acompanharam a inauguração da “feérica iluminação da luz de acetileno que se destinava a iluminar o mimoso logradouro. A iluminação produziu magnífico efeito” era a exclamação geral. 

  

Foram momentos de grande contentamento para a família aracatiense que compareceu em massa prestigiando o inesquecível acontecimento. Nesse dia, segundo os colunistas sociais, o “high-life”- como se dizia na época - da elite da nossa melhor sociedade, compareceu em toda sua exuberância dando um grande brilhantismo a essa noite de festas... 

 
FINALMENTE... 

No dia 24 de dezembro de 1911, já merecidamente titulada: Avenida Dr. Leite - José Leite Barbosa sócio da Fábrica Santa Tereza -; por ter sido ele, o mais entusiasmado benfeitor e destacado contribuinte para a realização dessa obra, foi finalmente aberta ao público. 

Nessa ocasião, o elegante Café Goiana, que se tornou o point da escol mocidade aracatiense, foi também inaugurado na mesma avenida. 

  

As bandas Zaranza e Euterpe Operária tocaram vários números dos seus repertórios, enquanto o povo circulava pelos passeios da nova e aprazível avenida até as primeiras chamadas do sino da igreja para a Missa do Galo, que seria celebrada na Matriz pelo Padre Domingos de Castro.  

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Antero Pereira Filho

ANTERO PEREIRA FILHO, nasceu em Aracati-CE em 30 de novembro de 1946. Terceiro filho do casal Antero Pereira da Silva e Maria Bezerra da Silva, Antero cresceu na Terra dos Bons Ventos, onde foi alfabetizado pela professora Dona Preta, uma querida amiga da família. Estudou no Grupo Escolar Barão de Aracati até 1957 e, a partir de 1958, no Colégio Marista de Aracati, onde concluiu o Curso Ginasial.
Em 1974, Antero casou-se com Maria do Carmo Praça Pereira e juntos tiveram três filhos: Janaina Praça Pereira, Armando Pinto Praça Neto e Juliana Praça Pereira. Graduou-se em Ciências Econômicas pela URRN-RN em 1976 e desde então tem se destacado em sua carreira profissional.
Antero atuou como presidente do Instituto do Museu Jaguaribano em duas gestões (1976-1979/1982-1985) e foi secretário na gestão do prefeito Abelardo Gurgel Costa Lima Filho (1992-1996), responsável pela Secretaria de Indústria, Comércio, Turismo e Cultura.
Além de sua carreira profissional, Antero é conhecido por seus estudos sobre a história e a memória da cidade e do povo aracatiense, amplamente divulgados em crônicas e artigos publicados na imprensa local desde 1975. Em 2005, sua crônica "O Amor do Palhaço" foi adaptada para o cinema em um curta-metragem (15") com direção de seu filho, Armando Praça Neto.

Obra

Assim me Contaram. (1ª Edição 1996 e 2ª Edição 2015)
Histórias de Assombração do Aracati. Publicação do autor. (1ª Edição 2006 e 2ª Edição 2016)
Ponte Presidente Juscelino Kubitschek. (2009)
A Maçonaria em Aracati (1920-1949). (2010)
Aracati era assim... (2024)
Fatos e Acontecimentos Marcantes da História do Aracati. (Inédito)
Notícias do Povo Aracatiense (Inédito)

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O Grupo Lua Cheia, com sede na cidade de Aracati-CE, é um coletivo de artistas formado em 1990 com o objetivo de fomentar, divulgar e pesquisar a arte e a cultura.