Aracati

Friday, 15 March 2002 18:14

PONTE PRESIDENTE JUSCELINO KUBITSCHEK

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Ernesto Gurgel do Amaral Valente. Ao fundo, Ponte Presidente Juscelino Kubitscheck Ernesto Gurgel do Amaral Valente. Ao fundo, Ponte Presidente Juscelino Kubitscheck

 “... Doutor Beni traga uma ponte para Aracati!” 

A figura agigantada do Sr. Gustavo Pereira do Nascimento– Seu Gustavo-, aumentava ainda mais espelhada nas águas mansas do rio Jaguaribe, naquela manhã do ano de 1946, postado ao lado do Doutor Beni Carvalho, aracatiense, deputado federal pela UDN, que calmamente esperava o PONTÃO no porto José Alves. 

Dez longos anos separaram este apelo do seu Gustavo do histórico despacho – QUERO FAZER –, do Presidente Juscelino Kubitschek no 12 de abril de 1956, respondendo ao memorial do deputado estadual, Ernesto Gurgel Valente. 
 
O pedido do velho e fiel correligionário calou profundamente no coração do Dr. Beni Carvalho, pois ao chegar ao Rio de Janeiro – Capital Federal – apresentou um projeto à Câmara dos Deputados para que fosse construída uma ponte sobre o rio Jaguaribe na cidade de Aracati no lugar denominado Tomé. 
 
Em 1949, a pedido do Dr. Beni Carvalho, esteve em Aracati o Dr. Alberto Contrima, engenheiro chefe do Departamento Federal de Estradas e Rodagens que veio verificar os necessários estudos e orçamentos para a construção da ponte que ligaria a cidade de Aracati à margem ocidental do rio Jaguaribe. 
 
O projeto do Dr. Beni Carvalho foi aprovado na Câmara dos Deputados que liberava, para a construção da ponte de Aracati no lugar Tomé, a quantia de 12 milhões de cruzeiros. Este projeto teve a aprovação do deputado relator Clemente Medrado e foi também aprovado pela Comissão de Finanças da Câmara que destinava ao Ministério da Aviação e Obras Públicas a importância acima mencionada para iniciar o serviço da ponte na cidade de Aracati. 
 
Apesar de todo o empenho do nosso conterrâneo o dinheiro não chegava a seu destino. A burocracia dificultava o andamento do projeto que se arrastava nos gabinetes governamentais. 
 
Foi preciso o apoio decidido do Senador do Ceará General Onofre Muniz Gomes de Lima, dando um parecer favorável na Comissão de Viação e Obras Públicas do Senado para que o projeto do deputado Beni Carvalho se convertesse em lei, isto ainda no ano de 1951. 
 
Nós aracatienses, assim como o nosso deputado Beni Carvalho, já estávamos desanimando, quando em janeiro de 1954 o Diário do Congresso Nacional, estampou o parecer que aumentava a verba para a construção da ponte no lugar chamado Tomé. Havia sido mais uma vez o esforço do Senador Onofre Muniz. 
 
A partir de então as coisas começaram fluir mais rapidamente. O Diretor do DNER - Edmundo Regis Bitencourt - enviava carta ao Senador Onofre Muniz, informando que dentre em breve seriam iniciados os serviços de sondagens e implantação da obra... 
 
Foram destinadas para a construção da ponte, que teria 400 metros de comprimento e que encurtaria em 300 quilômetros a distância entre Fortaleza e Recife, 13 milhões de cruzeiros no ano de 1955.  

 
Com a eleição do Dr. Ernesto Valente a deputado estadual em 1954, a causa da ponte do Jaguaribe ganhou um tremendo impulso, pois se antes eles já vinham trabalhando nos bastidores com afinco, agora detentor de um mandato teria na verdade muito mais força para reivindicar junto aos organismos do Governo Federal. 
 
Numa entrevista ao Jornal “O Jaguaribe”, Ernesto Valente anunciava em primeira mão que a “ponte do Tomé seria iniciada ainda este ano (outubro-1955) e que vinha trabalhando por essa ponte desde 1945 e que seria a maior do Ceará”.  
 
Mais uma vez o Senador Onofre Muniz tomava uma iniciativa em favor da construção da ponte avisando por carta ao Ministro Marcondes Ferraz que havia sido aprovado o Convênio entre o DNER e o DAER para agilizar os trabalhos da construção da ponte sobre o rio Jaguaribe. 
 
As verbas que haviam sido bloqueadas – 17 milhões de cruzeiros – durante o Governo Café Filho, foram desbloqueadas graças ao trabalho do Ministro cearense Menezes Pimentel. Ernesto Valente viajou então para o Rio de Janeiro em dezembro de 1955 com a finalidade de liberar as verbas em definitivo e finalmente conseguiu. 
 
Aberta a concorrência para a construção da ponte do Tomé venceu a construtora GOITACÁ com a proposta de C$ 27.158.00 e a promessa de concluir a obra em 400 dias. A ponte teria inicialmente 422.60 metros de comprimento, além de 20 metros de alas nas extremidades. 
 
Em abril de 1956 Ernesto Valente viajava novamente ao Rio de Janeiro para entregar o memorial relativo à construção da ponte ao Presidente Juscelino Kubitschek, que encaminhou o assunto ao Ministro da Aviação com o histórico despacho - QUERO FAZER – e em sua homenagem Ernesto Valente informava que a ponte se denominaria “Ponte Presidente Juscelino Kubitscheck”. 
 
A notícia chegou ao Aracati através de telegramas enviados do Rio de Janeiro com a auspiciosa divulgação. De repente começou o pipocar de foguetes por toda a cidade, manifestação que durou mais de três dias. 
 
Em junho de 1956 chegou o vapor do Loide Brasileiro Rio Solimões trazendo vasto carregamento de máquinas e equipamentos para o início das obras. 
 
Os serviços começaram logo em seguida à chegada do vapor Rio Solimões com a construção dos barracões e uma casa residencial para servir ao engenheiro chefe. 

 
Uma missivista que acompanhou de perto o início das obras assim se expressava em carta dirigida a familiares distantes de Aracati. ...” Estive hoje no serviço da ponte que já tem muita coisa feita. O movimento é intenso, sendo o passeio predileto e curioso do povo”. (agosto/56). Em outra carta datada de setembro/56 dizia: “Parece que o povo não acredita no que está vendo, num corre-corre de manhã à tarde para ver os serviços feitos que tem avançado muito nesses primeiros 40 dias de trabalho. Já tem vários tubulhões sentados na primeira etapa faltando os suplementos.” 
 
No mês de setembro de 1956 mais uma vez o vapor Rio Solimões chega ao porto de Aracati para desembarcar nesta ocasião mais de 300 toneladas de material. Chega também ao Aracati o engenheiro responsável pelo serviço da ponte Dr. Raoul Michel de Thuin. 
 
Enquanto a obra era tocada a todo vapor em Aracati, no Rio de Janeiro nossos amigos parlamentares brigavam pela liberação de mais recursos, pois no orçamento de 1956 a Câmara Federal havia liberado apenas 6 milhões de cruzeiros quando seria necessário muito mais para a continuação da obra. Os serviços só puderam continuar, sem sofrer atraso na programação, Graças ao trabalho do Senador Onofre Muniz que, através de uma emenda no orçamento, conseguiu que fosse liberado mais 10 milhões de cruzeiros. 
 
Em junho de 1958 depois de 14 meses, a Ponte Presidente Juscelino Kubitscheck estava terminada, um “sonho de dois séculos” havia se tornado realidade. A ponte custou ao final de concluída 44 milhões de cruzeiros, tendo 460 metros de comprimento por 9.30 metros de largura. Foi constituída em viga reta continua e assentada sobre 24 pares de fundações pneumáticas baseadas em média a 12 metros abaixo do nível da água. O projeto foi elaborado pelo DNER que o executou em cooperação com o DAER. 
 
O primeiro transporte coletivo a passar por cima da ponte, muito antes de sua inauguração oficial, foi o ônibus de Djalma Gomes, que vindo de Fortaleza no dia 30 de maio de 1958, conduzindo entre os passageiros o deputado Ernesto Valente, entendeu de passar pela ponte. Logo na chegada do outro lado o vigia embargou a passagem, então Djalma Gomes apontou Ernesto Valente como mandante, ao que o vigia se rendeu dando permissão. Houve uma salva de palmas para Ernesto Valente que se arvorou o pai da ponte. No meio da ponte os passageiros desceram tiraram retratos e vivaram Ernesto Valente. 
 
A Ponte Presidente Juscelino Kubitschek foi inaugurada oficialmente no dia 27 de julho de 1959. 
 
“A construção da Ponte Presidente Juscelino Kubitschek, sobre o rio Jaguaribe, representou, sem dúvida, o mais significativo acontecimento para a restauração da vida da cidade de Aracati.” Foram palavras do Dr. Ernesto Valente no jubileu de prata da Ponte, que deverá ficar na memória de todos aracatienses como uma verdade histórica. 
 
Ao Dr. Ernesto Gurgel Valente in memoriam 
 
Aracati 15 de março de 2002. 

 

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Antero Pereira Filho

ANTERO PEREIRA FILHO, nasceu em Aracati-CE em 30 de novembro de 1946. Terceiro filho do casal Antero Pereira da Silva e Maria Bezerra da Silva, Antero cresceu na Terra dos Bons Ventos, onde foi alfabetizado pela professora Dona Preta, uma querida amiga da família. Estudou no Grupo Escolar Barão de Aracati até 1957 e, a partir de 1958, no Colégio Marista de Aracati, onde concluiu o Curso Ginasial.
Em 1974, Antero casou-se com Maria do Carmo Praça Pereira e juntos tiveram três filhos: Janaina Praça Pereira, Armando Pinto Praça Neto e Juliana Praça Pereira. Graduou-se em Ciências Econômicas pela URRN-RN em 1976 e desde então tem se destacado em sua carreira profissional.
Antero atuou como presidente do Instituto do Museu Jaguaribano em duas gestões (1976-1979/1982-1985) e foi secretário na gestão do prefeito Abelardo Gurgel Costa Lima Filho (1992-1996), responsável pela Secretaria de Indústria, Comércio, Turismo e Cultura.
Além de sua carreira profissional, Antero é conhecido por seus estudos sobre a história e a memória da cidade e do povo aracatiense, amplamente divulgados em crônicas e artigos publicados na imprensa local desde 1975. Em 2005, sua crônica "O Amor do Palhaço" foi adaptada para o cinema em um curta-metragem (15") com direção de seu filho, Armando Praça Neto.

Obra

Assim me Contaram. (1ª Edição 1996 e 2ª Edição 2015)
Histórias de Assombração do Aracati. Publicação do autor. (1ª Edição 2006 e 2ª Edição 2016)
Ponte Presidente Juscelino Kubitschek. (2009)
A Maçonaria em Aracati (1920-1949). (2010)
Aracati era assim... (2024)
Fatos e Acontecimentos Marcantes da História do Aracati. (Inédito)
Notícias do Povo Aracatiense (Inédito)

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