SORRISOS DE ABRIL
(F. Clotilde - À Gilberta Galvão)
O sorriso de Abril!...A graça insonte e meiga
Que se evola da flor e que brota no ninho;
O perfume, a poesia que dentro em nós se arreiga
Do campo verde, ao mais vivo carinho.
É tudo encantador... A brisa mais se ameiga,
Corre manso o regato na orla do caminho,
Reverdece da planta o trêmulo raminho
Tudo canta e sorri pela extensão da veiga!
O coração palpita e sonha à luz dourada
Que do azul nos inspira a rima abençoada,
Trescalando de afeto e ternura sutil;
Primavera no campo e primavera n’alma,
Foge a treva da dor e o coração se acalma,
Ante a graça aromal do sorriso de Abril!
(Francisca Clotilde in Revista A Estrella, Aracati, Abr. de 1916)
MARIPOSA
Incauta mariposa em torno à luz
Viceja pela chama fascinada,
Até que enfim examine, crestada
Cai em meio do fogo que a seduz.
A chama q’ue dos olhos teus transluz
Tem minha alma em desejos torturada
E aí tento fugir mais abrasadas
Me sinto neste amor q’ue cresce a flux.
Oh! Fecho os negros olhos sedutores,
Não me queimes nos férvidos ardores
De uma louca paixão voráz e forte
Receio que minha alma caia exausta
Neste abismo de luz como a pirausta
Que buscam o prazer e encontra a morte
(Francisca Clotilde, A Quinzena, 15/05/1887)
CEARÁ
Ave, Terra da Luz, Ó pátria estremecida,
Como exulta minha alma a proclamar-te a glória,
Teu nome refugastes inscreve-se na história,
És bela, sem rival, no mundo, engrandecida!
A dor te acrisolou a força enaltecida,
Conquistaste a lutar as palmas da vitória
Hoje és livre e de heróis a fúlgida memória
Jamais se apagará e a fama enobrecida.
O sol abrasa e doura os teus mares que anseiam
Em vagas que se irisam, que também se alteiam
A beijar com ardor teus alvos areiais.
Eia! Terra querida, sempre avante!
Deus te guie no futuro em ramagem brilhante
Nas delícias do bem, nos júbilos da paz!
(Francisca Clotilde, A estrella, março de 1912)