POETOSSÍNTESE

Monday, 26 July 2021 17:47

FRANCISCA CLOTILDE

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FRANCISCA CLOTILDE Francisca Clotilde.

Seleta de textos e poemas escritos por Francisca Clotilde.

SORRISOS DE ABRIL 

(F. Clotilde - À Gilberta Galvão) 

  

O sorriso de Abril!...A graça insonte e meiga 

Que se evola da flor e que brota no ninho; 

O perfume, a poesia que dentro em nós se arreiga 

Do campo verde, ao mais vivo carinho. 

  

É tudo encantador... A brisa mais se ameiga, 

Corre manso o regato na orla do caminho, 

Reverdece da planta o trêmulo raminho 

Tudo canta e sorri pela extensão da veiga! 

  

O coração palpita e sonha à luz dourada 

Que do azul nos inspira a rima abençoada, 

Trescalando de afeto e ternura sutil; 

  

Primavera no campo e primavera n’alma, 

Foge a treva da dor e o coração se acalma, 

Ante a graça aromal do sorriso de Abril! 

  

(Francisca Clotilde in Revista A Estrella, Aracati, Abr. de 1916) 


 

 

MARIPOSA 

  

Incauta mariposa em torno à luz 

Viceja pela chama fascinada, 

Até que enfim examine, crestada 

Cai em meio do fogo que a seduz. 

  

A chama q’ue dos olhos teus transluz 

Tem minha alma em desejos torturada 

E aí tento fugir mais abrasadas 

Me sinto neste amor q’ue cresce a flux. 

  

Oh! Fecho os negros olhos sedutores, 

Não me queimes nos férvidos ardores 

De uma louca paixão voráz e forte 

  

Receio que minha alma caia exausta 

Neste abismo de luz como a pirausta 

Que buscam o prazer e encontra a morte 

  

(Francisca Clotilde, A Quinzena, 15/05/1887) 


 

CEARÁ 

  

Ave, Terra da Luz, Ó pátria estremecida, 

Como exulta minha alma a proclamar-te a glória, 

Teu nome refugastes inscreve-se na história, 

És bela, sem rival, no mundo, engrandecida! 

  

A dor te acrisolou a força enaltecida, 

Conquistaste a lutar as palmas da vitória 

Hoje és livre e de heróis a fúlgida memória 

Jamais se apagará e a fama enobrecida. 

  

O sol abrasa e doura os teus mares que anseiam 

Em vagas que se irisam, que também se alteiam 

A beijar com ardor teus alvos areiais. 

  

Eia! Terra querida, sempre avante! 

Deus te guie no futuro em ramagem brilhante 

Nas delícias do bem, nos júbilos da paz! 

  

(Francisca Clotilde, A estrella, março de 1912) 


 

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Francisca Clotilde

FRANCISCA CLOTILDE- [...]Francisca Clotilde (19/10/1862 – 08/12/1935) é cearense de Tauá (antiga São João dos Inhamuns) e foi a primeira mulher a ser admitida para lecionar na Escola Normal, em Fortaleza, inaugurada a 22 de março de 1884. Viveu nos municípios cearenses Fortaleza, Aracati, Baturité e Redenção, teria participado da libertação de escravos no interior e, ao que consta, teve seis filhos, tendo sido casada mais de uma vez. Colaborou em jornais como O Domingo, A Quinzena, Revista Contemporânea, A República, na folha operária O Combate e no abolicionista O Libertador. Sonetos, contos, peças de teatro, poemas, traduções de folhetins de autores como Byron, Goethe e Gogol, críticas literárias e propagandas figuram em sua produção. Clotilde fez parte do movimento de cearenses precursoras da escrita feminina, em um tempo em que o ato de escrever, em si, era subversivo. 

[...] 

A mais conhecida obra de Francisca Clotilde é celebrizada, em parte, por sua temática e pelo esquecimento que lhe foi imposto. Na introdução de A Divorciada (1902), a autora apresenta o romance como “[...] uma história singela de duas criaturas que se amaram com pureza, e as quais o destino torturou acerbamente antes de dar-lhes a felicidade almejada” (CLOTILDE, 1996: 81-2). 


ALMEIDA, Luciana Andrade de. GÊNERO E TRAJETÓRIA BIOGRÁFICA: a história da ousada e esquecida Francisca Clotilde (1862-1935). In: ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA, 2006, Rio de Janeiro. Anais [...] . Rio de Janeiro: Anpuh, 2006. p. 1-10. Disponível em: http://www.snh2011.anpuh.org/resources/rj/Anais/2006/conferencias/Luciana%20Andrade%20de%20Almeida.pdf. Acesso em: 26 jul. 2021. 

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