POETOSSÍNTESE

Wednesday, 28 July 2021 10:38

FRANCISCO GRAÇA DE MOURA

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FRANCISCO GRAÇA DE MOURA Francisco Graça de Moura

Seleta de poemas escritos por Francisco Graça de Moura.

ESTATUTO DA SOLIDARIEDADE 

  

Todo fruto emana da terra 

e será distribuído equitativamente 

a todos os homens; 

nenhum homem será chamado de excluído 

mas terá o direito a sua identidade 

e será tratado com amor, justiça e dignidade. 

  

Toda semente será um cântico de esperança 

e todo fruto será o ventre de liberdade 

de onde brotarão 

todos os pães 

que por mãos fraternas 

serão distribuídos a todos os despossuídos. 

Ficam proibidos a competitividade e o egoísmo 

e todos os que trabalharem nesta terra comum 

usufruirão o sol, à água e o fruto como irmãos 

e diariamente, antes que o crepúsculo 

sucumba no manto da noite, 

dar-se-ão as mãos calejadas 

e renovarão o pacto da esperança na caminhada em 

busca da libertação. 

Todos os que trabalharem nesta gleba 

plantarão justiça todos os dias, 

irrigarão a terra com ardor todas as horas 

multiplicando pela solidariedade 

os pães que serão partilhados por todos os homens. 

  

(Francisco Graça de Moura,  do livro “POEMAS UTÓPICOS”, 1980) 


 

A TUA SOMBRA NO PERFIL DA TARDE OUTONAL 

  

Esta tarde de vultos peregrinos, de estátuas nômades, 

de passos silentes que se apressam na busca 

de sonhos letárgicos. 

  

Esta tarde de portos sem faróis, de naus perdidas, 

de marujos sem glória, de mar sem bravura. 

Esta tarde de lembranças fugidias, de saudades persistentes, 

de cânticos sufocados, de sons dissonantes, 

de fantasias mutiladas. 

Oh! Amada! Nesta hora em que o sol 

adormece no esquife de negras nuvens 

e a garoa flácida, fina e persistente 

cái sobre o asfalto das ruas estagnadas, 

a tua sombra projeta-se no perfil da tarde, 

luz no painel cinzento da natureza, 

visão sublime de harmonia 

nesta tarde sonolenta de outono. 

Hoje, amada, a luz frouxa do 

crepúsculo não repousará 

sobre as nuvens e o firmamento 

porque todas as luzes se apagaram 

prematuramente 

no leito cinza desta tarde informe; 

e neste concerto ortodoxo de sons distorcidos 

de vozes amarguradas, de paisagens antipoéticas, 

de ruas ermas, de céu escuro, de pássaros silentes, 

de imagens esquivas 

de garoa fina e flácida, 

apenas o teu perfil deixa no final desta tarde outonal 

uma esteira de luz, de poesia e de amor! 

  

(Francisco Graça de Moura,  do livro “ELEGIA DE MIM MESMO”, 1970)


 

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Francisco Graça de Moura

Poeta e sociólogo aracatiense.

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