QUEBRA-CABEÇA
O que cabe
Dentro da cabeça?
Muitas dúvidas
Pouca certeza.
A cabeça
É um pequeno
Pedaço de osso
No mundo.
A cabeça
É um poço
Sem fundo.
Na cabeça
Cabe tanta coisa.
Coisa grande
Coisa pequena.
Na cabeça
Tão pequena
Cabe tanta
Coisa grande.
A minha cabeça
É um cárcere
De ideias.
E essa ideia
Não me sai
Da cabeça.
E cabe tanta
Coisa na cabeça
Números...
Histórias...
Aristóteles...
Cores...
Deus...
Paz...
Sonhos...
Chapéu...
Livros inteiros...
Cabe na cabeça.
Já que cabe
Tanta coisa
Na cabeça
Então coloca
Uma coisa
Na cabeça...
Cabeça foi feita
Pra pensar
O que não faz pensar
É o que
Quebra cabeça.
(Jairo R. Monteiro)
RADIOGRAFIA
Nasci da bebedeira de mainha
Por um estranho fui concebido
De um momento sem amor fui cuspido
Nem nome, nem berço eu tinha.
E tudo poderia não passar disso.
Mais um bastardo no mundo
Porém alguma coisa me gritava no fundo
Para seguir além do possível.
Então a vida se fez incerta
E o bastardo virou poeta
E a caneta virou espada.
Lutando por utopias, criando revoluções
Brigando até mesmo com leões
Tornei-me conquistador do nada.
(Jairo R. Monteiro)
O PARTO (EM VERSOS)
Pra se fazer um poema
É preciso de uma amada
Bem mais que de um tema
E é claro, uma boa madrugada.
Papel e caneta são detalhes
Já que o poema é loucura
É simplesmente o remédio, a cura
De todos os males.
Mas quem escreve um poema
Não se salva, se envenena
Com seus velhos sonhos.
E há quem enxergue deus solidário
Nos olhos do poeta solitário
Mas seu coração é um cárcere de demônios.
(Jairo R. Monteiro)
NIETZSCHE
Em meu altar encontrei
Eu mesmo
Pois sou meu único deus
E meu único demônio.
O céu já não é mais o limite
Para além do céu existe o sol
Para além do sol a distância
Dentro de mim há um universo
De possibilidades
E um sonho sem importância.
Eu o vi descer por entre nuvens
Das alturas mais remotas
Mas ele não vinha julgar os homens
Vinha ensiná-los.
Quem era aquele homem?
Se não era Deus
Nem Maomé
Nem Shiva
Nem Jesus.
Era eu
Era você
Éramos todos nós
Pois para além do tempo
Que nos consome
Existe um deus há muito morto
E um nascente super-homem.
Jairo R. Monteiro
A LOBA FOI TEMA
A loba foi tema
Neste poema.
O poema
Que do poeta nasceu.
E o poeta
Assim aprendeu
A escrever e a amar
Ao ver loba uivar.
A beleza selvagem
Da loba que uivava,
Que sonhava,
Que escondia
Sob a noite
O seu lado mulher
O inspirou.
E o poeta a amou
No calor da primeira olhada
E o poeta se condenou coitado!
A amar sem ser amado.
A loba se esconde
Nas noites mais claras de lua
E nos sonhos mais obscuros do poeta.
O poeta se esconde
Em seus poemas mais sofridos.
E neles o poeta também esconde
O seu amor impossível.
Jairo R. Monteiro
FIZ UM FACE
Na minha vida tão vazia
De homem moderno
Tão cheio de tudo.
Eu caminhava pelas ruas
E nelas já não havia mais amigos
Amores...
Pessoas...
Risos...
Conversas...
Canções...
Calçadas...
Aí fiz um face
E encontrei meus amigos.
Por isso as ruas andavam
Tão desertas
Comigo andando nelas
Tão sozinho...
Agora
Eu estou cheio de amigos
Apesar de ainda
Não encontrá-los...
Pois é!
Eu fiz um face
E estou cheio de amigos
Mas deserto como a rua.
Jairo R. Monteiro