O FAQUIR
Estes meus olhos rutilantes, hoje, fitos em ti
Já estiveram opacos, vermelhos, ‘flâmula a meio pau’
Embotados pela lágrima sem consolo...
Hoje, rende-se ao novo ar de esperança,
empreendida a sufocar a voz da traumática experiência,
Não querem mais chorar...
Esta boca faminta, eloquente e molhada com os teus beijos
Provou de seus dias lacônicos, agrestes e soturnos,
Mas, revigorado, rasguei com os dentes
as fímbrias da obscuridade
E esta mesma boca agora ora, profetiza,
louvo a Deus por tua existência.
Por favor, não deixe, de novo, ficar mudo,
a não ser com um beijo teu...
Estas mesmas mãos que te afagam, acariciam
e te chamam para dançar gostoso...
Já estiveram de punhos cerrados, suadas e trêmulas
ao amparar apenas minhas próprias lágrimas tão sentidas.
E mais uma vez estão estendidas, receptivas
Desejosas do toque de tua pele
e de abrigar somente tuas mãos
Por favor, não me deixe mais cerrá-las...
Este meu tronco, qual, hoje, se debruça,
amoroso, sobre teu ventre ao amor...
Onde te agarras delirante a sugar-me sobre ti...
Há algum tempo já esteve posto literalmente ao chão
Amparado apenas pela parede, cabisbaixo e choroso
Hoje se permite a volúpia de teus braços e boca
a conduzir-me ao teu caminho de doce Afrodite.
Por favor, não permita desolar-me ao chão...
Cansei de ser, de minha alma, o faquir...
Em, 11 de abril de 2006.
(Henrique Musashi)
ÉKSTASIS
O que os teus lábios não me falaram
As tuas mãos já me disseram tanto - mais do que deviam
(Mas creio que ainda não disseram tudo)
enquanto tua boca nem som produzia,
fizeste minha boca se morder em doce enlevo
Enquanto passeavas e hidratavas os meus sonhos com o mel de tua boca
Sim, um mel abstrato
de uma boca tal como os teus olhos - parcos
Porém cheia de carícias as quais ofertas a pele
que reveste arrepiada o meu peito,
o qual dizes, em gestos, ser tão doce,
Pois a tua língua assim me fez pensar
Em cada beijo bem vivido
Por bem sentir e bem guardar tal textura
presente na tua superfície tão opulentamente doce
Enquanto sinto a seda entre vales e dunas
tão generosamente gostosas
as quais quase sempre me despertam
o desejo de por sobre elas me deitar
e quem sabe agonizar de sede
por tanto desejar beber de tua água.
Em, 21 de outubro de 1998.
(Henrique Musashi)
SEI...
Sei que tuas primaveras superam meus olhos outonos
E, provável, teus olhos parcos, outrora invernos,
já viram mais que os espelhos de minh'alma
Por certo, ou errado, já viste frente a frente
Grã delusão ofuscaste
a embotar a visão de beleza de um simples beijo
e de outros sinônimos da palavra amor
Desilusões de garimpo de malograda bateia,
por achar tantas piritas e nunca pepitas
E de repente, quando se acha ouro tão raso
se duvida que o bom tesouro valha
Poesia também é dor!
É apenas canto lindo de pássaro
arrulhador de belezas só contidas no íntimo da alma
e não ao seu derredor.
Eu, poeta, já desisti de dizer
que o amor é lindo,
pois prefiro mostrar, a ti,
que o amor existe!
Em, 18 de maio de 2005.
(Henrique Musashi)
(1 hora depois...)
Ébrio é o meu comportamento infeliz
Faço merda... Falo merda...
da solidão que me impõe o carrancismo
a dizer-me freguês do fútil
talvez útil ao meu 'ID'
a dizer-me animal comum
quando na verdade sou o poeta deslocado
de tudo que aqui existe
Sou o social carrasco!
Vaginas a contemplar-me comum
em meio a vulgaridade ali, citada também, tão comum
Aqui paixão é algo flutuante e enganoso
a dizer-me que o amor, talvez, seja algo inexistente...
Fujo!
Roubo segundos de minha vida
a dizer-me eterno
quando na verdade sou mais que efêmero.
Brega, triste, inusitada voz irritante
sobre os meus conceitos incomuns,
pois que nunca paguei por sexo (neste contexto!)
Não irei pagar por segundos fantasmas e tristes
por apenas satisfação de um instante
a pagar por um espasmo hormonal.
(Henrique Musashi)
NO CABARÉ
Sinto minhas forças se esvaírem
neste ambiente funesto
Fungos em minha consciência
a dizer-me vulgar
entre as cinzas de um cigarro barato
a submeter-me ao prelúdio profano
como o tigre, que sou,
ando solitário entre as 'damas' propostas,
cheio de cachaça,
um embrulho nas entranhas.
- NADA A VER COMIGO!
Social carrasco a dizer-me estranho
Não me encaixo!
Sou o estranho em meio as garrafas a incinerar
garganta, bucho e filme.
Penso...
Penso, torto e tonto como meu caminhar
balbo e ébrio
cruzando o prostíbulo
Não me encaixo!
Nada neste lupanar me identifica
a não ser o desejo mútuo de me entorpecer
com o meu vulgar tranquilizante...
Aracati/Ce - Em, 9 de abril de 2005.
(Henrique Musashi)