ARACATI
Nos Casarões
De meu País
Dormem ao som
Da resistência
Antigas lendas
Da Rua Grande
Do Jaguaribe
Das madrugadas
Que me devolvem
Sob seus véus
O misticismo
De meus heróis.
Meus Casarões!...
Aracati...
(Rosângela Ponciano)
SAUDADE
De tantas folhas em branco
Que repousam em pálpebras que poetizam,
Reservo, em tuas mãos, a palavra vil
Que remonta verbos,
Que sintetiza o eterno.
Mãos que regem a história;
Voz que sussurra o que há tempos
Silencia as entrelinhas da alma...
Onde estiveres,
Sej a tua imagem
O reflexo dos pedintes,
Dos poetas, dos profetas,
Dos que tangem a loucura
Ávidos de som.
Em teu corpo,
Resquício de mar,
A lágrima sorri no reencontro,
Reservando, para o instante último,
As lembranças que não retornam,
O rosto que não toco,
Os lábios que não mais desenho,
As palavras que não foram ditas,
A dor
Que tua vinda...
Finda.
(Rosângela Ponciano)
OSTINATO
Quando o passado retorna
Como se fosse verdade
Algo em mim se expande e
Padece de uma dor reticente,
Ansiosa, onipresente.
Já não resisto.
Apenas observo e silencio,
Fechando os olhos ao que me tornei,
Permitindo-me -como
Num resumo pictográfico -
As imagens furtadas
De um passado distante,
Envolto num tempo insistentemente cúmplice,
Fadado a eterno.
(Rosângela Ponciano)
RECITAL
Ostinato. Rosângela Ponciano.
Intérprete: Regina Oliveira. 2008.