IDEAL
Nesses teus lábios rubros, coralinos
Nesses teus olhos negros, pequeninos
passo a vida a cismar,
Não há nada para mim como o teu olhar doce,
bondoso, encantador, Nem como o teu sorriso, essa mimosa flor,
gentil e perfumada.
O teu semblante é como uma alvorada
onde não falta a luz,
Nem também falta o aroma que seduz.
Quando eu passo por ti sinto um prazer imenso.
É como se estivesse em plena primavera.
Das pontas do teu lenço
evola-se um perfume! ... Ai quem me dera
viver sempre ao teu lado,
escravo, humilde, em prantos mergulhado!
que doce que seria
a tua companhia!
Beijar-te a todo instante uma fímbria do Vestido
seria para MIM
o MESMO Que beijar OS Pes de hum Querubim
mim Houver convertido
para alcançar Um Só dos teus Olhares,
sem desprender hum Único gemido,
sem Pó Que o vento lev Pelos ares! ...
(Adolfo Caminha)
CANÇÃO DO MARINHEIRO
Há muito tempo que eu vivo
por sobre as águas do mar
sem um sorriso, um olhar ...
Ora triste pensativo,
sempre, sempre a trabalhar,
ora me rindo expansivo
no meio do meu pezar
Que sina de marinheiro
ser eterno prasenteiro ...
À noite no tombadilho
a gente põe-se um cismar
que vive sem nunca amar,
que morre não deixa trilho,
e o marinheiro a chorar
é como estrela sem brilho,
como as noites de luar ...
Que peito do marinheiro
oculta uma ave, um coleiro ...
(Adolfo Caminha)
CONVALESCENTE
Volto de novo a vida, enfim respiro
como se nada houvera acontecido.
Agora o bosque, o lago, o meu retiro?
O riso em vez do pranto dolorido.
Voltam de novo as noites luminosas
Passadas ao luar alegremente.
Agora as meigas faces cor de rosa...
— Eis-me feliz, tranquilo, independente!
Tudo parece haver se transformado!
Tudo que eu vejo é novo e deslumbrante...
Em cada flor cintila um diamante...
Há mais amor, mais vida pelo prado!
(Adolfo Caminha)