POETOSSÍNTESE

Wednesday, 21 July 2021 20:59

ADOLFO FERREIRA CAMINHA

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ADOLFO CAMINHA ADOLFO CAMINHA

Seleta de poemas do romancista e poeta aracatiense Adolfo Caminha.

IDEAL

 

Nesses teus lábios rubros, coralinos
Nesses teus olhos negros, pequeninos
        passo a vida a cismar,
Não há nada para mim como o teu olhar doce,
        bondoso, encantador, Nem como o teu sorriso, essa mimosa flor,
gentil e perfumada.

O teu semblante é como uma alvorada
        onde não falta a luz,
Nem também falta o aroma que seduz.

Quando eu passo por ti sinto um prazer imenso.
É como se estivesse em plena primavera.

        Das pontas do teu lenço
evola-se um perfume! ... Ai quem me dera
viver sempre ao teu lado,
escravo, humilde, em prantos mergulhado!
        que doce que seria
        a tua companhia!

Beijar-te a todo instante uma fímbria do Vestido
        seria para MIM
o MESMO Que beijar OS Pes de hum Querubim
        mim Houver convertido
para alcançar Um Só dos teus Olhares,
sem desprender hum Único gemido,
sem Pó Que o vento lev Pelos ares! ...

(Adolfo Caminha)

 


 

CANÇÃO DO MARINHEIRO

 

Há muito tempo que eu vivo
por sobre as águas do mar
sem um sorriso, um olhar ...

Ora triste pensativo,
sempre, sempre a trabalhar,
ora me rindo expansivo
no meio do meu pezar
        Que sina de marinheiro
        ser eterno prasenteiro ...
À noite no tombadilho
a gente põe-se um cismar
que vive sem nunca amar,
que morre não deixa trilho,
e o marinheiro a chorar
é como estrela sem brilho,
como as noites de luar ...
        Que peito do marinheiro
        oculta uma ave, um coleiro ...

(Adolfo Caminha)

 


 

CONVALESCENTE

 

Volto de novo a vida, enfim respiro
como se nada houvera acontecido.
Agora o bosque, o lago, o meu retiro?
O riso em vez do pranto dolorido.

Voltam de novo as noites luminosas
Passadas ao luar alegremente.
Agora as meigas faces cor de rosa...
— Eis-me feliz, tranquilo, independente!

Tudo parece haver se transformado!
Tudo que eu vejo é novo e deslumbrante...
Em cada flor cintila um diamante...
Há mais amor, mais vida pelo prado!

 

(Adolfo Caminha)

 

 

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Adolfo Caminha

ADOLFO Ferreira CAMINHA- Nasceu em Aracati, no dia 29 de maio de 1867, falecendo no Rio de Janeiro, em 1º de janeiro de 1897. Chegou a oficial da Marinha, abandonando a farda devido a um escândalo em que se envolveu, tornando-o malvisto na pequena Fortaleza de então. Ingressa no serviço público civil, transferindo-se para o Rio, depois de ter tomado parte na fundação da Padaria Espiritual [...]. Estreou com um livro de poemas, Voos lncertos (1886) e um de novelas, Judite e Lágrimas de um Crente (1887). Publicou depois o principal de sua obra, os romances A Normalista (1893) e Bom-Crioulo (1895). Entre um e outro lançou um livro de viagem, No País dos Ianques (1894). Seus derradeiros trabalhos foram Cartas Literárias (1895) , de crítica, e o romance Tentação (1896).


Referência: AZEVEDO, Sânzio de. Literatura Cearense. Fortaleza: Academia Cearense de Letras, 1976.

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