Aracati

Monday, 04 February 2008 21:15

BLOCO BAIANINHOS A E B

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Rafael Barbosa Rafael Barbosa Acervo do entrevistado.

Tradição. Esta tem sido a palavra mais usada na retomada do carnaval de blocos. Algumas vezes a palavra perde a força por encontrar inconsistência na prática repleta de modernização dos blocos e negação de alguns de seus elementos constitutivos. Mas é a palavra TRADIÇÃO que ora nos apegamos para falar sobre o Bloco Baianinhos A e B. Fomos recebidos na casa da saudosa Maria Baía, figura marcante no imaginário popular, incentivadora do presépio, pastoril, lapinha e tantas outras atividades que desenvolvia em nosso Aracati. Sua filha D. Fransquinha Baía e o artista Rafael Barbosa nos acolheram com muita generosidade para dialogarmos sobre o enredo do Bloco Baianinhos A e B para o ano de 2008. 

O Bloco Baianinhos A e B e formado por quantos integrantes? 
 
Rafael- Algo em torno de 75 integrantes entre criança e adultos. A equipe de criação é composta por seis pessoas responsáveis pela pesquisa realizada para o enredo deste ano, produção de fantasias e coreografia. O tema deste ano vem falar sobre Gustavo Jiló, isto porque ele foi uma pessoa que cresceu e morou aqui no bairro (Bairro de Fátima). O enredo do ano passado foi de sua autoria. Então a comunidade achou que o bloco, este ano, homenageasse Gustavo Jiló. 
 
Como a comunidade recebeu o tema que está sendo trabalhado este ano? 
 
A comunidade foi parceira na criação deste tema. Quando eu cheguei aqui, já se falava nele. “Nós queremos homenagear Gustavo Jiló”. E ponto final. A comunidade por unanimidade disse o que queria. 
 
Como tem sido a participação dos moradores do bairro de Fátima nos preparativos do bloco para o carnaval de 2008? 
 
Rafael- É até interessante quando a gente toca nesse ponto porque eu não esperava que a comunidade se engajasse tanto. Eles vêm aqui (oficina do bloco) e perguntam em que podem ajudar, se precisamos de alguma coisa... Procuram saber em qual ala os seus filhos participarão... Eu acho que o interessante do carnaval cultural é isso: levar a cultura para a avenida. Cada ala representará uma parte da vida do nosso homenageado. E assim será possível ao público conhecer um pouco mais sobre Gustavo Jiló, tanto a comunidade que está engajada quanto a sociedade aracatiense. 
 
O bloco trará quantas alas para a avenida? 
 
Rafael- Seis alas. Comissão de frente, baianinhas, malandrinhos, ala dos loucos (numa homenagem ao bloco Loucos da Praça), 04 destaques, ala do amor e ala dos pescadores. 
 
Qual a relação histórica da versão de 2008 com o Bloco Baianinhos do passado? 
 
Fransquinha- As alas das baianinhas e dos malandrinhos. Porque no passado a nossa equipe era essencialmente composta por crianças na faixa etária dos 7 a 12 anos. De 2006 pra cá começaram a participar jovens e adultos que passaram a se interessar mais. Em consequência o bloco cresceu. Hoje está mais organizado, tem muita gente querendo se destacar. Tudo isso é muito bonito, mas muito cansativo também. A gente fica no bloco porque a gosta, trabalha com amor, dedicação, mas é cansativo. Nós saímos todos esses anos e vamos sair em 2008 daqui para frente eu não sei... vamos ver.  
 
O bloco cumpre uma função social no bairro? 
 
Fransquinha- Eu acho que sim. Muitas dessas crianças não conheciam o carnaval de blocos. Conhecia só o mela-mela (brincadeira com água e maisena muito comum no carnaval) na rua. Mas depois que a gente convidou e se sentou para conversar nós falamos como era um bloco, o que se fazia. 

 
Os Baianinhos contou no passado com a participação do Irmão Gonzaga, na época diretor do Colégio Marista de Aracati. Ele organizou um grupo de crianças de lá, dos Maristas, aí convidou a minha mãe (Maria Baía), Sr. Francisco Cândido. Minha mãe logo aceitou o convite, porque toda vida gostava de movimentos culturais. Nós saímos em 1974 e 1975, dois anos seguidos, e depois paramos. Não teve mais bloco. Em 2006, depois de vinte e tantos anos, nós recebemos o convite e apoio do prefeito Expedito Ferreira que queria organizar todos os blocos... aí eu aceitei. Mas vou dizer novamente: é muito cansativo. 
 
Qual a característica primordial do Bloco Baianinhos A e B? 
 
Rafael- São as alas das baianinhas e dos malandrinhos. Ela não pode deixar de existir. Baseado no pouco registro fotográfico disponível, eu pude ver que essencialmente havia as baianinhas e os malandrinhos. Acredito que deva continuar sempre com esta formação. Também havia uma pessoa, destaque, vestida de Carmem Miranda. O sonho do bloco conseguir trazer a velha guarda toda vestida de baianas. 
 
Qual a possibilidade deste trabalho vir a se profissionalizar? 
 
Rafael- Há uma probabilidade muito grande. Se houver organização, as chances são grandes. 
 
Na equipe de produção existem integrantes da comunidade participando na confecção dos materiais do bloco? 
 
Rafael- Do bairro participam o Polim e o Alisson, além de vários jovens que sempre aparecem para ajudar nos trabalhos. Todos são orientados por outros artistas. Também contamos com o apoio da D. Fransquinha e a Ivone que servem de apoio à equipe de produção. 
 
No ano de 2007 o bloco foi agraciado com o segundo lugar apresentando enredo que homenageava o time Navegantes. Qual foi a repercussão desta conquista? 
 
Fransquinha- O povo ficou muito alegre, ficaram empolgados. Foi bom demais.  
 
O que este carnaval precisa melhorar em realação às condições existentes para a apresentação das agremiações? 
 
Rafael- A Rua Grande é muito bonita em si, mas falta iluminação. A gente faz a fantasia, mas falta iluminação adequada para valorizar este trabalho. Se faz necessária uma poda nas árvores. Falta isolamento da passarela o que leva os curiosos a adentrarem a avenida e isso atrapalha muito o desfile. 
 
Esse espaço que está sendo utilizado como oficina, é uma residência? 
 
Rafael- É uma residência alugada por D. Fransquinha, cujo aluguel está incluído no orçamento do bloco. 
 
Onde o bloco tem ensaiado? 
 
Rafael- No Ferreirão (clube da cidade) e na própria comunidade, na rua que fica em frente à casa de Dona Fransquinha. 
 
Nesse especial de entrevistas com os blocos, temos chamado a atenção para a preservação do acervo que o bloco constitui ano a ano. Como vocês têm pensado esta questão, já que o bloco não dispõe de espaço físico próprio para a guarda deste material. Porque certamente, no futuro próximo, a exemplo do Bloco Universo Negro, que tem se apresentado ao longo do ano em eventos culturais por todo o estado do Ceará, assim também poderá acontecer com o Bloco Baianinhos A e B. Como o bloco tem pensado esta possibilidade? 
 
Fransquinha- Todo o material é guardado em minha residência num quartinho. Ali o material fica acondicionado, depois de ser lavado e engomado. Tudo isto com muito cuidado e zelo. Mais de agora pra frente eu não sei... eu até falei este ano... porque assim... a gente fica cansada. Se os Baianinhos fosse um grupo maior... tudo bem. Mas um grupo de três pessoas. Todo mundo acha bonito. “Ah, os Baianinhos tá bonito, tá isso, tá aquilo”. Mas pra dar uma mãozinha ninguém chega. Só querem que tire o primeiro lugar, que saia tudo bonitinho..., mas venha ajudar também! Né? É por isso que às vezes eu fico assim... eu fico um pouco triste. Porque o bairro é muito grande, tem muita gente. “Ah, a senhora é solteira, é isso, é aquilo”. Eu tenho a minha casa. Eu fico cansada também. O bairro é muito grande pode formar uma equipe boa pra trabalhar, né? É o nome do bairro! O bloco não é meu. É do Bairro Nossa Senhora de Fátima. São as crianças do bairro! São essas coisas que entristecem a gente. Mas eu gosto! Você conhecia minha mãe (Maria Baia), os movimentos que a minha mãe fazia...  Toda vida minha mãe gostou de movimentos culturais. Aí eu segui também. Mas tem um certo tempo que a gente fica cansada. Vamos ver... quem sabe daqui pra frente apareça mais gente, mais jovens. O Bloco Baianinhos vai crescer muito porque eram poucas crianças hoje é um bloco com aproximadamente 80 pessoas. 


Entrevista cedida por Rafael Barbosa e Fransquinha Baía a Marciano Ponciano em 04 d3 fevereiro de 2008. 

 

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Marciano Ponciano

MARCIANO PONCIANO- Sou natural de Aracati-Ce, terra onde os bons ventos sopram. Na academia da vida constitui-me poeta, realizador de sonhos, encenador de máscaras. Na academia dos saberes acumulados titulei-me professor de Língua Portuguesa e especializei-me em Arte-Educação. O projeto de vida é semear a arte por onde passe: teatro, poesia, artes plásticas- frutos da experiência acumulada em anos dedicados a ser feliz. Quando me perguntam quem sou - ator, poeta, encenador, artista plástico, educador? Afirmo: - Sou poeta!

Publicou:

Poetossíntese. Coletânea de poemas. Ed. própria. Aracati-CE. 1996.

Caderno de Literatura Poetossíntese. Coletânea de poemas. Ed. Terra Aracatiense. Aracati-CE. 2006.

aracaty. Cadernos de Teatro. Ed. Terra Aracatiense. Aracati-CE. 2010.

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Sobre nós

O Grupo Lua Cheia, com sede na cidade de Aracati-CE, é um coletivo de artistas formado em 1990 com o objetivo de fomentar, divulgar e pesquisar a arte e a cultura.