Quando foi fundado o bloco Universo Negro?
No carnaval de 1998.
Quem foram os fundadores do bloco?
Erivando Braga, Aíla Nogueira de Castro, Marques, Jean Carlos dos Santos, Betto Lins, Ricardo Freitas.
O que mais caracteriza o Bloco Universo Negro?
Bonecos escuros. Não fui eu quem denominou. Quem denominou foi o próprio público que achava ser o bloco um maracatu. E eu tenho trabalhado para que assim se pareça. A característica dele é ser um bloco de cultura negra.
O bloco possui bateria?
Bem... Na primeira fase nós saímos com a bateria do Colégio Municipal de Aracati. Nos outros anos foi organizada um ano por Marcelo Costa, um excelente percursionista, e nos outros anos foi organizada por Epfânio Jiló.
Hoje, por qual motivo não há o acompanhamento musical?
Por questões financeiras e uma série de fatores. Nós até pensamos em organizar novamente a bateria, mas a sua acomodação é muito difícil. Nós estamos com dificuldades para acomodar os bonecos devido a problemas estruturais em nossa sede.
Qual o ritmo para acompanhar o Bloco Universo Negro?
O ritmo afro, o que mais se aproxima ao Maracatu.
Quantos integrantes compõem o bloco?
Aproximadamente, ele pode funcionar até com 25 pessoas. Esse ano excepcionalmente nós sairemos com 30 pessoas. A nossa meta é a de ampliar para um número maior de bonecos na avenida. Os bonecos possuem dois tamanhos: Grandes e pequenos. Os maiores possuem o dobro do tamanho de uma pessoa com 1,60m de altura. Ou seja, 3,20 m e pesam aproximadamente 15 kg. E os menores possuem 2,30m que representam os jovens em nosso bloco. Estes pesam entre seis e sete quilos.
Como se dá a participação das pessoas no Bloco Universo Negro?
Quando nós iniciamos o bloco as pessoas nos procuravam para dançar. Muita gente queria participar. Só que o tempo foi passando e elas não quiseram mais participar de graça. E nós precisamos passar a pagar. Hoje só dança se houver pagamento.
Como você analisa esse estado de coisas?
Eu sinto que é um problema. Porque está levando parte do orçamento do bloco para pagar o cachê das trinta pessoas. Esse dinheiro poderia ser aproveitado para comprar material e, no entanto, é pago a pessoas que vão dançar.
Qual o projeto de futuro para esse bloco?
Transformá-lo num maracatu. Cada dia que passa eu vou inserindo elementos que lembrem o maracatu. Tenho até plano de tirar a porta bandeira e colocar o porta bandeira como é no maracatu.
É possível profissionalizar o carnaval de Aracati?
Acredito que sim. Mas isso vai levar muito tempo. As pessoas se acostumaram a outras maneiras de fazer o carnaval. Eu já tenho mais de sessenta anos e o carnaval não tinha nada disso que é hoje. As pessoas faziam por mero prazer de brincar o carnaval. Todo mundo produzia sua fantasia. Quando muito se tivesse a bateria, eles (organização do bloco) iam conseguir dinheiro pra fazer a fantasia de quem ia tocar nos instrumentos. E muitas vezes nem eram pagos. Os músicos iam também para brincar o carnaval. Hoje é diferente. Hoje ele é todo comercializado.
O que se faz necessário para a consolidação deste carnaval como uma atividade inserida no calendário cultural do município de Aracati de modo continuado?
Eu acho que enquanto houver o trio elétrico aí na rua vai ser sempre muito difícil. Porque existe a opção de você brincar na rua sem gastar quase nada. E num dado momento você vê que para brincar no carnaval você tem que gastar dinheiro com fantasia. Antes não... é porque não havia escolha. Ou você brincava num bloco de sujo, ou no clube num baile carnavalesco ou nos blocos. Era a forma de brincar no carnaval do passado, né. Principalmente na minha infância. Hoje não. Qualquer um, de criança a velho, brinca sem gastar um centavo indo atrás do trio elétrico. Aí é preciso muito amor... E vai levar muito tempo para as pessoas brincarem no carnaval cultural e ver a beleza que ele é e o que ele soma para a cultura e o turismo do Aracati.
O que é preciso para que isso se transforme numa política pública? Vir a ser uma prática da cidade e não tão somente de uma gestão?
Que as pessoas cobrem das administrações a necessidade do carnaval cultural e não parar por aí. Porque as pessoas no Aracati, infelizmente, têm o hábito de fazerem reuniões, debates e as pessoas não comparecem. Depois ficam reclamando “Ah, eu não sabia disso!”. Não soube por que não quis, porque foram convidados e não compareceram. Tem que cobrar!!! Porque o carnaval de rua é necessário... Porque traz o bom turista para a cidade. Ele traz o turista que tem dinheiro, que tem educação.
Quantas pessoas trabalham na oficina do bloco.
10 pessoas trabalhando há aproximadamente um mês.
Qual a emoção de ver o bloco na rua?
Emoção de um trabalho realizado.
Entrevista cedida por Hélio dos Santos Barros, presidente do Bloco Universo Negro, a Marciano Ponciano. Aracati, 01 de fevereiro de 2008.