AMANHÃ
-1-
Quando eu vi papai na vala
fiquei com tanta tristeza
compreendi que a natureza
tem a régua dessa escala
passei minutos sem fala
desorientado e além
não apelei para ninguém
apenas disse meu pai
hoje é o senhor que vai
amanhã eu vou também
-2-
O caminho dessa descida
que todo vivente espera
pode ser a maior fera
todo vivo perde a vida
tem entrada e não saída
pode viver mal ou bem
quem vai pra lá nunca vem
foi como eu disse ao meu pai
hoje é o senhor que vai
amanhã eu vou também
(Zé Melancia)
História da fundação do labirinto de 1850 e começo
Dos dados do labirinto
Vou apresentar seu evento
Para quem luta com ele
E não tem conhecimento
É uma indústria falada
Já de tanto movimento
Saibam que o labirinto
É indústria manual
É procedente da renda
Sendo outra original
Inventada por caboclas
Nascidas no litoral
É meu dever apresentar
O seu passado histórico
Ocupando os meus versos
Por esse meio folclórico
Para lerem e cantarem
Num bonito tom sonoro
Precisa elevar o nome
Dessa armadora primeira
Foi uma antiga senhora
Joaquina Cabugar Teixeira
Pois ela está intitulada
De chefa labirenteira
O início do labirinto
Foi precedido da renda
Trocando bilros e espinhos
A almofada era a tenda
Esse produto manual
Era de grande encomenda
A tenda de fazer labirinto
É um tear com os tensos
Joaquina Cabugar um dia
Tentou de fazer uns lenços
Desfiou os quatro cantos
Os trabalhos foram extensos
Terminou aquela obra
A saída foi medonha
Encomendaram um tipo grande
Já com nome de fronha
A obra estava em começo
Mas o povo tinha vergonha
Só tinha que nesse tempo
Era muito larga a maia
Faziam peito de camisa
Também as barras de saia
Não tinha linho nem bramante
Era murim e cambraia
Era uso do começo
Também a ponta de toalha
Era tudo diferente
Para os que hoje trabalham
Se for voltar ao passado
Tem muitos que se atrapalham
Hoje há muita diferença
Daquela época passada
Essa indústria manual
Está no mundo espalhada
Mas saibam que a rainha
É a Canoa Quebrada
Deixamos a Cabugar Teixeira
A antiga veterana
Vinha de origem horlandesa
Mas sendo filha praiana
Na profissão do labirinto
Tem título de soberana
A indústria foi aumentando
Cada dia com mais valor
Quem faz é quem não tem nada
Só é bom pra o comprador
O fabrico desse nas praias
Em família de pescador
Tem que trabalha nessa arte
Até quase ficar caduco
Antigamente os balseiros
Que iam a Pernambuco
Comprar paus de jangada
No engenho Joaquim Nabuco
Lá trocavam labirinto
Por esses paus de jangada
Viajavam muitos meses
Com essa madeira embalsada
Esses negociantes eram
Filhos de Canoa Quebrada
Eram uns pobres aventureiros
Iam só lutar com a sorte
A viagem muito arriscada
Não tinham um bom transporte
Em mil novecentos e dezenove
Chegou madeira do norte
Voltamos ao labirinto
Com seu nome vulgar
Colchas e guardanapos
Guarnição toalha de char
E toalha de banquete
Pra quem sabe trabalhar
Tem blusas e toalhinhas
Centro e coleção
Bico de labirinto
Saia branca e aplicação
São esses os nomes vulgares
Que todas feiteiras dão
Agora vamos aos pontos
Que no labirinto tem
Teoria das mais práticas
Quem conhece muito bem
O passado e o presente
Sendo de perto e de além
Precisa de tirar amostra
Com o ramo e bainha
Com meadas e carretel
Conforme a média da linha
Torcendo também enchendo
Fazendo flor e rosinha
Ponto milindro e de cruz
Ponto alegre e cerzido
São esses os detalhes certos
E o ponto mais preferido
Então sobre o labirinto
Está tudo esclarecido
O labirinto é muito bonito
Feito com curiosidade
Já foi inventada a máquina
Mas não teve utilidade
Essa indústria da pobreza
Se só fosse de riqueza
Custava uma infinidade
Enfim já mostrei ao mundo
De onde veio o labirinto
É uma indústria de pobre
Mas cabe em todo recinto
Essa riqueza é dos praianos
Faz cento e dezesseis anos
Nem foi e nem vai extinto
Quem escreveu esse passado
Foi o José Melancia
Poeta velho e afamado
Na rima e na poesia
Conhece Canoa Quebrada
A sua terra estimada
Desde o alto à maresia.
(Zé Melancia)