MARCIANO PONCIANO- Quais eram as suas atribuições enquanto secretária?
DIONE FIUZA- Exercia a função de secretária. Além das atas das sessões, elaborava requerimentos dos senhores vereadores, ofícios e preparava a pauta das sessões.
MP- Qual recurso a senhora dispunha para o registro das sessões da Câmara?
DF- O recurso usado era manual, anotava tudo que os senhores vereadores falavam para depois fazer a ata. Somente no ano de 1981, quando o Vereador Raimundo Nonato Barbosa, eleito presidente daquela casa, adquiriu um gravador e com isso (registro) facilitou a escrita da ata.
MP- A senhora trabalhou na Câmara quando ali funcionava, no seu pavimento térreo, a cadeia de Aracati.
DF- A cadeia funcionava sem nenhuma condição para abrigar seres humanos. Não tinha banheiro dentro das celas e as necessidades fisiológicas eram feitas durante a noite dentro delas, ficando um mau cheiro terrível. Vi muitas vezes no quintal da cadeia, presos amarrados no pé de sapoti, como se fossem animais, levando chicotadas do policial. Isso me incomodava muito.
MP- Na década de 80 Aracati presenciou uma revolta motivada pela morte violenta de uma criança vítima de estupro. A população após longos confrontos com a polícia capturou o assassino e fez justiça com as próprias mãos. O que se perdeu da história da Câmara Municipal de Aracati com aquele episódio?
DF- Na minha opinião, além dos bens materiais como birôs, armários amassados e lâmpadas quebradas, nada se perdeu de valor histórico.
MP- Que assunto foi levado à pauta das discussões na Câmara Municipal de Aracati que gerou maior polêmica?
DF- Na minha opinião foi a Lei nº 02/90, "Cria a Lei Orgânica do Município de Aracati, aprovada e sancionada no dia 05 de abril de 1990, assim como o Projeto de Lei que criou a Tribuna Livre daquela Casa Legislativa.
MP- Relate-nos um fato curioso ocorrido na Câmara Municipal de Aracati.
DF- O Vereador Carlos Alberto pediu licença por três meses para concorrer ao cargo de senador pelo PT. Assumiu o suplente que passou a frequentar o Plenário daquela Casa durante o período em que o titular esteve ausente. Com o retorno do Vereador Carlão, por não ter conseguido se eleger, o suplente apresentou sua despedida em forma de verso dizendo que só sabia se expressar e falar dessa maneira. Eis os versos:
PONTO DE VISTA
I
Sr: Presidente e colegas vereadores
Quando aqui assumi esta cadeira
Comecei a olhar para os senhores
Igualmente ao aluno explicado
Que observa atento os professores.
II
Percebi que aqui o ganho é bom
Pelo pouco trabalho que se faz
Quando falam os senhores usam um som
Para não forçar as cordas vocais
Café, água, advogada e telefone
Servidores bom ventos e jornais.
III
O trabalho dos senhores é importantes
Este fato eu não quero contestar
Mais eu fico aqui meio intrigado
E a meus botões eu começo a perguntar
Porque é que só fala meia Dúzia
E os outros só ficam a escutar?
IIII
Com certeza ao povo se dizia
La na câmara vou representar vocês
Só que aqui na semana vem um dia
E num ano não trabalham nem dois meses
Mais se eles soubesse que é quem pagam
Com certeza não voltavam outra vez
IIIII
Jurandi meu colega me desculpe
Mais não o vi fazer nem requerimento
Só estando combinado com Arnaldo
Que também é calado todo tempo
Mais eu dou um conselho pro senhores
Tenham cuidado que o povo está atento.
VI
O Presidente Manim um outro dia
Pareceu que estava apressado
Quando declarou aberta a seção
Assis não estava com seus óculos colocado
E tão ligeiro encerrou esta seção
Que duas matérias inda estava a ser votadas
VII
Já Didi mais a dona Miriam
Eu os vi da sua contribuição
Zé Maria Picorel é entendido
Mais com Azarias só vivem em questão
Quando ele apresenta um projeto
Zé Maria diz logo passa não.
VIII
O senhor vereador Tinoco Luna
Foi Heroi desta última eleição
Conduziu uma campanha sem ter verbas
Só trabalho, força e disposição
Não ganhou mais esta casa teve orgulho
De o telo e apertar a sua mão.
IX
O colega Didico de caminhão mostrou
Que o outeiro lhe tem estimação
Teve seu candidatos bem votados
Derrotando lá dentro a oposição
Mais agora o povo espera o cemitério
Pela quadra, telefone e cuide não
X
O Alcântara é o escolhido defensor
Nesta casa das matérias de prefeito
Mesmo assim sem gostar ele defende
E seu grupo age assim do mesmo jeito
Nos lançamos nossos votos em combate
E quase sempre se torna sem efeito.
XI
O Colega Osmar Francisco eu já vi
Na tribuna com seus requerimentos
Pedindo telefone e boa estrada
Pois assim não tem carro que aguente
Foi pra isso que o povo lhe elegeu
Mas venha sóbrio pra esta casa e bote quente.
XII
Gesiel Fernandes meu amigo
Ajudou-me em algum enformação
Ele está igualmente a uma coruja
Não faz nada mais presta uma atenção
Tem cuidado que o povo está atento
E aí vem mais uma eleição.
XIII
O Presidente ausentasse desta casa
Deixando o vice em seu lugar
Sua cadeira neste dia tinha brasa
Que mau deu para ele se sentar
Se a ata não lida tão depressa
Não tinha dado tempo terminar
XIV
Os senhores desculpe estes versos
Mais só sei falar assim desta maneira
Tudo isso que vos falo aconteceu
Nestas tardes de belas quintas-feiras
Agradeço a Deus ter assumido
De Carlão sua vaga na cadeira
XV
O Vereador Marivaldo diz que tem
Um ser forte que intercede ao seu favor
Este ser eu já sei é Jesus Cristo
Que com seu sangue puro nos livrou
Eu também tenho fé que após a morte
Viveremos na morada do Senhor.
XVI
Senhores muito obrigado por me prestarem atenção
Espero que estas palavras lhe sirva até de lição
Não que eu seja professor pois não sor formado não
Nem que fiquem magoado mais não foi minha intenção
Este é apenas meu trabalho minha contribuição
Mais não fiquem magoados pois não foi minha intenção
Agora vou encerrar
Agradecendo aos presentes
Aos amigos vereadores
Nosso ilustre presidente
E todos que aqui trabalham
De advogada a serventes.
Suplente do Vereador Carlão.
Jonas Ferreira Barbosa
(Optamos por transcrever o poema tal qual foi apresentado, pelo autor, naquela sessão da Câmara Municipal de Aracati.)
MP- Quando a 1ª vereadora foi eleita? Havia preconceito contra a mulher no Legislativo?
DF- A primeira vereadora eleita foi a Sra. Rosália Costa Nepomuceno no ano de 1963. Quanto ao preconceito contra a mulher, afirmo que nunca existiu, ou melhor eu nunca notei.
MP- Qual foi a primeira vereadora eleita presidenta da Câmara Municipal de Aracati?
DF- A primeira mulher eleita Presidente da Câmara Municipal de Aracati, foi a Vereadora Maria Lúcia Pereira Alves para o biênio 1981 a 1983.
MP- Como a Sra. avalia a participação da população nas sessões da Câmara no tempo em que ali a Sra. exercera sua função. O que mudou?
DF- Desde os anos 90 que a população passou a se interessar mais pelas sessões da Câmara. Porém com a aprovação do Projeto de Lei que criou a "Tribuna Livre", as comunidades passaram a frequentar as sessões, levando através de seus líderes as reivindicações de cada comunidade. Com isso muitas vezes, o plenário daquela Augusta Casa, fica lotado.
Entrevista cedida pela Sra. Dione Fiuza Lima, a Marciano Ponciano, em 14 de junho de 2008