Em 2006, por ocasião da II Festa do Livro e da Leitura de Aracati, foi lançado o livro de contos de sua autoria intitulado "Histórias de Assombração do Aracati". Após um ano deste lançamento como você avalia a receptividade desta obra?
Fiquei muito feliz naquela noite do lançamento do livro que vocês, do Lua Cheia, organizaram com competência e carinho. Passado um ano continuo recebendo manifestações de carinho do povo do Aracati que continua lendo o livrinho. O livro tem tido uma receptividade excelente, fico muito feliz, particularmente por causa do interesse pela nossa história, mesmo sendo de Assombração...
Além da releitura de sua obra para o teatro, realizado pelo Grupo Lua Cheia, com a montagem "O Conto dos Ventos", outras atividades foram realizadas por instituições de ensino em Aracati. Gostaríamos que você comentasse esse aspecto.
Além do prazer de ver encenado pelo Lua Cheia o "Contos dos Ventos", fiquei muito alegre e feliz quando assisti ao filme feito pelas alunas das Salesianas, " O rosto do baú". Isto poeta é gratificante, significa que seu trabalho foi bem aceito, e o artista não vive sem os aplausos. Agora no "Curta Canoa" voltei a ver o filme das meninas. Foi muito bom... Seria interessante que a comunidade estudantil, os colégios a Faculdade, tivessem mais conhecimento sobre o que se está fazendo na área cultural em Aracati...
Qual foi a sua intenção em unir história, lenda e ficção em "Histórias de Assombração do Aracati"?
Tentei unir a história real com a ficção para causar um maior interesse, pois sabemos que todos gostam de história e junto com lenda torna-se mais atraente. Foi uma maneira de chamar o leitor para perto da história do nosso Aracati, causar mais curiosidade.
Você acha que a obra atingiu seu objetivo?
Acho que atingiu em cheio. Partindo daquelas histórias as pessoas querem saber quem era o Barão que morava naquele sobrado, como eram as festas na Casa da Câmara, a abolição dos escravos em Aracati, entre outras.
Em que projeto você está trabalhando atualmente?
Estou trabalhando em dois projetos: Neste próximo trabalho estou contando as histórias de tragédias, crimes e mistérios que aconteceram em Aracati. São histórias verdadeiras que abalaram a cidade de Aracati e que pouca gente conhece. O outro trabalho é sobre a história política do Aracati, começando em 1912 até 1930. Este será o primeiro livro outros depois virão até os nossos dias... Tem muita história interessante...
Gostaríamos que você abordasse os seguintes aspectos: Vocação artístico cultural de Aracati e políticas públicas para a cultura ao longo da história do Aracati.
Eu sinto que nossa cidade tem uma vocação artística e cultural muito acentuada. São os grupos de teatro, gente de cinema. Agora mesmo fez o maior sucesso o curta "Tião e Tieta", feito por cineastas de Aracati. Isto é uma vocação nata pois sabemos que não existe escolas para formação dessa turma. Existe gente escrevendo coisas boas, mas que infelizmente não têm espaço para publicar. Quanto às políticas públicas voltadas para a cultura em nossa cidade, desculpe meu desconhecimento, não tenho conhecimento que existam, se por acaso existir peço minhas desculpas...
Você fez parte da primeira secretaria de cultura de Aracati, de 1993 a 1996, no mandato do prefeito Abelardo Filho. A atual secretaria de cultura agrega as pastas de Meio-ambiente e Turismo. Isso não minimiza as ações em cada setor? Aracati, por sua diversidade cultural não merecia uma secretaria exclusiva de cultura?
Você me fez lembrar de um período frustrante, porque não consegui fazer nem um pouco daquilo que havia imaginado. O Prefeito Abelardo Filho no seu terceiro mandato como prefeito -1993-1996, criou a secretaria de Cultura que não existia, que veio agregada a Indústria, Comércio e Turismo. Na época considerei um erro, como considero até hoje. Aracati merecia ter uma secretaria de Cultura, assim como uma secretaria de Turismo, separadas naturalmente, cada uma com sua estrutura.
Infelizmente os governantes não enxergam a importância da cultura e por isso não valorizam. Isto não é de hoje vem de longe e acontece tanto no município, como no estado e no campo federal...
O aracatiense tem a dimensão das riquezas culturais de sua cidade?
Não, poucos são os aracatienses que têm a dimensão da importância cultural do Aracati na história do Ceará, tanto no campo da política, da arquitetura, no campo social. Mas isso não é culpa do povo não. Isso é culpa dos nossos dirigentes que nunca deram grande importância a nossa história, aliás é bom que se diga que isso vem de longe... A cidade e sua história só são lembradas quando chega uma autoridade interessada em nossa história e na semana do município, depois disso tudo volta a ser como antes no quartel de Abrantes.
A Constituinte Municipal de Aracati prevê a inclusão do ensino de História do Aracati no currículo de nossas escolas. Na sua opinião o que falta para isso ser implantado de maneira eficaz?
Existia um livro do Dr. Abelardo Gurgel Costa Lima, "Pequena Corografia do Município do Aracati" que era um livro didático para ser utilizado nas escolas públicas. Infelizmente não tenho conhecimento se realmente chegou a ser incluído no currículo das escolas. Acho muito importante que a Constituinte Municipal tenha essa iniciativa, falta agora determinação da Secretaria de Educação do Município de levar adiante essa ideia. Isso realmente seria de fundamental importância para a divulgação de nossa história...
Aracati contou em seu passado com uma imprensa escrita muito atuante. Hoje, apesar dos avanços tecnológicos não possuímos um único jornal que mantenha sua periodicidade regular. É possível fazer relação entre o passado e o presente da imprensa aracatiense?
Em 1859 havia dois jornais semanais em formato de tabloide com quatro páginas muito bem escritas e impressos em Aracati. As tipografias estavam em Aracati, aqui na rua Grande. Depois disso por muitos outros períodos tivemos bons jornais todos impressos aqui em nossas gráficas, feitos por jornalistas da terra que sabiam escrever e escreviam bem. A relação entre o passado e o presente no que se refere a imprensa aracatiense, acredito que a elite econômica cultural e social do passado tinha um certo compromisso com nossa cidade. Hoje a dita "elite", se é que exista!!! Não tem nenhum compromisso com a cidade. Talvez o tempo, os novos costumes e outros interesses, tenham direcionado o foco para outros objetivos.
Entrevista cedida por Antero Pereira Filho a Marciano Ponciano.