Arte

Thursday, 05 November 2015 09:11

ENTREVISTA | BETTO LINS NO FIO DA PALAVRA

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Betto Lins. Betto Lins. Marciano Ponciano

Ator, compositor, intérprete, publicitário essas são algumas das facetas do artista aracatiense Betto Lins que nos vem falar sobre seus processos criativos, projetos e poética a serviço da livre expressão. 

Marciano Ponciano- O CD O Jardim está repleto de parcerias e composições autorais. Considero esse trabalho um referencial em sua carreira como músico e compositor. O CD confeccionado artesanalmente traduz em certa medida o mesmo cuidado e experimentalismo contido nas canções. Ainda há muito d’O Jardim em seu processo de criação? 

Betto Lins-Sim. Na verdade “O Jardim” marcou não só o meu início de carreira musical, mas a minha trajetória. Eu diria que “O Jardim” foi um momento ímpar e acho que ele não acontecerá novamente não só por causa das composições, mas pelas parcerias, a criação e experimentação. 

  

MP-Qual a importância de uma obra despretensiosa e experimental? 

BL-Digamos que é uma faca dois gumes. De um lado você tem a liberdade artística de outro a aceitação do público. Mesmo assim permaneço no experimental, pois fica algo mais personificado. Há mais identidade. 

  

MP-O mercado musical se alterou muito com o advento de dispositivos móveis e da rede mundial de computadores. Essa realidade criou novos nichos para a inclusão de trabalhos até então desconhecidos do grande público e que hoje têm a possibilidade de figurar nas playlists de sites dedicados a divulgação de novos músicos inclusive aqueles mais experimentais. Como você analisa esse novo momento? 

BL-Eu analiso como uma grande oportunidade de difusão e democratização da arte. Acho que esta onda de informatização e modernização dos veículos de comunicação só veio a agregar tanto na música quanto na arte em geral. Com isto é possível se vê a quantidade de produções independentes no cenário artístico. 

  

MP- Você tem algum trabalho divulgado nesses espaços, na web? 

BL-Hoje eu uso bastante o Youtube(https://www.youtube.com/watch?v=cheB_lcxM6o) e a plataforma palcomp3.com (http://palcomp3.com/bettolins/) 

  

MP-Como se dá o processo criativo de Betto Lins? 

BL-Hoje o meu processo de criação está dividido em duas vertentes: a primeira está atrelada às minhas emoções, aos meus sentimentos, ao que eu penso em dizer nas músicas. A segunda faz relação aos novos sons que estão surgindo, ou seja, ao mercado do trabalho experimental e autoral. Procuro sempre estar antenado com o que está acontecendo no mundo do cenário musical independente. 

  

MP-O que vem primeiro a melodia ou a letra? 

BL-Vêm as duas ao mesmo tempo. De repente, estou em casa daí me vem uma frase ou alguma inspiração, e pego o violão, e faço uma sequência de acordes, e começo a pensar na melodia, e vou encaixando a letra. Passo dias cantando e experimentando e vou fazendo os ajustes necessários. Fiz uma canção, recentemente, intitulada "Costela de Tigre" que nasceu das gravações de um curta homônimo que participei. O engraçado é que quando comecei a compor achava que não tinha nada a ver com o curta, mas depois que terminei fui juntar as peças e percebi a conexão entre os dois mundos. Essa é uma canção que me lembra as do álbum “O Jardim” por trazer consigo uma irreverência e, ao mesmo tempo, algo inspirador e reflexivo. 

  

MP-Para quem o poeta fala ao compor? 

BL-Para a vida, para algumas pessoas que me inspiram. Por exemplo, tem uma canção que não entrou no CD “O Jardim” que se intitulava “Eterna Visão”. Eu a compus inspirada na beleza de uma jovem aracatiense que fazia teatro no Colégio Marista. Eu nunca tive muita intimidade com ela, mas em certo concurso marial estávamos eu, ela, um amigo e uma amiga discutindo a proposta de uma coreografia e, de repente observei a beleza majestosa daquela jovem debaixo da luz de um poste. Fiquei com aquilo na cabeça. Nesta composição a poesia veio primeiro e em seguida a canção. 

  

MP-Que influências musicais impregnam o seu trabalho? 

BL-Zeca Baleiro, Luiz Gonzaga, Lenine, Otto, Tulipa Ruiz. A forma de cantar e de interpretar da Cássia Eller. Johnny Hooker, um compositor que acabei de conhecer e com o qual me identifico muito. Ele assina a trilha sonora do filme “Tatuagem”. Mas há muitos e outros. 

  

MP-Você trabalha em projetos musicais os quais têm ocupado teatros e centros culturais na capital cearense. Que perspectivas surgiram com esse trabalho? 

BL-Minha perspectiva hoje é de fazer o que me dá tesão, o que acredito. Foi isso que fez desabrochar em mim durante as participações nestes espaços culturais conceituados do Ceará. Percebi que há espaço para a minha música, que é possível trabalhar com minhas criações. Atualmente me dedico à produção de um novo CD autoral. Trata-se de um projeto ainda sem data prevista para ser lançado. O zelo com a finalização do projeto demanda muito tempo, pessoal e recursos financeiros. Este último tem sido o calcanhar de Aquiles de quase todo artista, mas estou naquele momento de estudar possibilidades. 

  

MP-Além de compositor e intérprete que outros papéis você acaba desempenhando na produção musical de seus trabalhos. Você conta com uma equipe? 

BL-Hoje eu conto com uma pessoa que me ajuda, mas sinto a necessidade de contar com uma equipe de trabalho. Os processos são desgastantes e, algumas tarefas tornam-se muito difíceis dado o grau de especialidade solicitado. Na ausência de uma equipe adequada às necessidades de meus projetos acabo fazendo tudo: direção, iluminação, marketing cultural etc. 

  

MP-Além desse trabalho voltado para a música há uma inserção de suas composições em espetáculos teatrais. O teatro é sempre um retorno às suas origens artísticas? 

BL-À bem da verdade um trabalho complementa o outro. Canto porque um dia atuei. Atuo compondo porque canto. Toco violão porque componho. Ou seja, vejo a arte como uma cadeia integrada. O teatro sempre foi e sempre será o meu pontapé inicial, meu ponto de partida e chegada. 

  

MP-A experiência teatral ajudou em seu trabalho com música? 

BL-Sim, porque o teatro traz em seu seio uma série de signos e sabores que dão um toque especial à vida. Ele é tão importante para o músico como para o público. O teatro alimenta a palavra, que alimenta a alma, que transforma o homem. 

  

MP-Além da música você tem se dedicado a outros trabalhos em cinema e publicidade. Fale-nos a respeito. 

BL-O que acontece é que nem sempre podemos nos manter somente com a arte, por isso mesmo você acaba se envolvendo com outras propostas, novas frentes de trabalho cujo objetivo é possibilitar viver de forma digna. Eu tive um encontro com a Ciência do Marketing e hoje trabalho com isso. Por um momento cheguei a pensar que isso pudesse me afastar radicalmente da música, do teatro, mas ao contrário me fez ver a arte de outra forma, com outro olhar. Percebi ser possível propagá-la de uma forma mais madura e com um maior planejamento. Hoje presto consultoria e assessoria em marketing a algumas empresas cearenses. No cinema fiz uma pequena experiência. Quando fui escolhido para fazer um papel fiquei surpreso comigo mesmo. A minha bagagem teatral é o teatro de rua onde o gesto é muito grande e intenso e no cinema é diferente. Achava que não conseguiria, mas foi uma experiência reveladora. 

  

MP-Diga-nos em que projeto cinematográfico participou? 

BL-Participei do curta “Costela de Tigre” dirigido pelo paulistano Paulo Ribeiro. O filme foi um trabalho realizado pelos alunos do curso de audiovisual da Universidade Federal do Ceará-UFC. Por enquanto é possível assistir o teaser disponível no endereço: https://www.youtube.com/watch?v=q6V9l_Tb_lQ&feature=youtu.be 

  

MP-Gostaria que você encerrasse essa entrevista compartilhando conosco um trecho de uma composição sua que bem traduzisse esse momento. 

BL-Cada macaco no galho/ Toda aranha na teia / toda costela de tigre / todo buraco é azul / toda política cega / corrupta brasileira/ vá tomar rum na cadeia/ embriagada de verme nu / Pra quem fodeu nosso mundo nu... (Costela de tigre. Betto Lins). 


Entrevista cedida a Marciano Ponciano, por meio do facebook, em 05 de novembro de 2015. 

 

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Marciano Ponciano

MARCIANO PONCIANO- Sou natural de Aracati-Ce, terra onde os bons ventos sopram. Na academia da vida constitui-me poeta, realizador de sonhos, encenador de máscaras. Na academia dos saberes acumulados titulei-me professor de Língua Portuguesa e especializei-me em Arte-Educação. O projeto de vida é semear a arte por onde passe: teatro, poesia, artes plásticas- frutos da experiência acumulada em anos dedicados a ser feliz. Quando me perguntam quem sou - ator, poeta, encenador, artista plástico, educador? Afirmo: - Sou poeta!

Publicou:

Poetossíntese. Coletânea de poemas. Ed. própria. Aracati-CE. 1996.

Caderno de Literatura Poetossíntese. Coletânea de poemas. Ed. Terra Aracatiense. Aracati-CE. 2006.

aracaty. Cadernos de Teatro. Ed. Terra Aracatiense. Aracati-CE. 2010.

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Sobre nós

O Grupo Lua Cheia, com sede na cidade de Aracati-CE, é um coletivo de artistas formado em 1990 com o objetivo de fomentar, divulgar e pesquisar a arte e a cultura.