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Monday, 09 November 2015 21:28

HISTÓRIAS DE ASSOMBRAÇÃO DO ARACATI: ENTRE MEMÓRIAS, BOTIJAS E LOBISOMENS

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Antero Pereira Filho Antero Pereira Filho

Antero Pereira Filho escritor e contador de histórias, como prefere ser chamado, fala-nos de seu mais novo projeto editorial: a segunda edição do livro de contos “Histórias de Assombração do Aracati”. 

 
Marciano Ponciano- Ítalo Calvino, os irmãos Grimm, Câmara Cascudo e Sílvio Romero são alguns exemplos de autores/pesquisadores que se dedicaram ao registro de estórias pertencentes ao domínio público e transmitidas de geração a geração pela oralidade. Não fosse esses autores não seria possível conhecer tais narrativas. O livro Histórias de Assombração do Aracati faz esse mesmo percurso. Como surgiu a ideia de fazer uma obra com histórias pertencentes à oralidade aracatiense? 
Antero Pereira Filho- Aracati tem muita história política, econômica e social. Isso você pode encontrar em alguns livros de história do Ceará que trata desses assuntos por vários autores. No entanto nada existe publicado, isto antes do nosso livrinho de Assombração, que falasse sobre nossas lendas, nosso folclore que considero muito interessante. Meu principal objetivo com esse trabalho foi deixar uma publicação que contasse nossas histórias narradas pelo povo e que se transformaram em lendas e fazem parte do nosso folclore. 

 
MP- A primeira edição, com data de 2006, encontra-se esgotada. Como você avalia o interesse da população por essas histórias? 
APF-Existe um interesse muito grande, posso dizer até mesmo curiosidade por parte da população, especialmente os mais jovens, do sobrenatural, haja vista que até hoje o Drácula - o famoso vampiro- é tema de livros e de filmes e isto ocorre ao longo de gerações. Agora mesmo uma série de filmes - Crepúsculo - sobre esse tema faz um grande sucesso. Portanto é um assunto que não se esgota. Há muita história desse tipo em nossa cidade que os mais jovens querem saber. 

 
MP- Principalmente sobre lobisomens? 
APF- Aracati teve vários lobisomens cada um com sua história que ficou apagada com o tempo. Agora nós estamos resgatando essas histórias para as gerações mais novas. São narrativas que contam também um pouco de nossa cidade, seus costumes. 
Quem nunca ouviu falar em botijas? Em quase toda família existe uma pessoa que tirou ou foi convocado pelas criaturas do além para tirar uma botija e ficar rico para sempre. A cidade de Aracati está cheia de ricas botijas que ainda não foram tiradas. No nosso próximo livro eu conto histórias de umas botijas que foram resgatadas. 

 
MP-Uma segunda edição, revisada e ampliada, do citado livro, encontra-se em fase de conclusão. Além dos treze contos pertencentes à primeira edição, que outras histórias farão parte desta nova edição? 
APF-Tem um conto, no livro, que se passa em três lugares que considero histórico para a nossa cidade. Infelizmente dois desses prédios que eram residências, não mais existem: a Casa dos Franceses localizada no Sitio Santarém, atualmente Bairro nossa Senhora de Lurdes, a antiga Maloca; a Casa das Soares na Cacimba do Povo que foi derrubada. Restou apenas o Castelo que mesmo em condições precárias ainda continua em pé. Pois bem uma das histórias tem como ambientes esses três locais. A intenção foi a de mostrar ao leitor a importância do nosso patrimônio e seu valor histórico. Esses três prédios foram representativos para história aracatiense ao seu tempo e as novas gerações devem ter acesso a essa informação como memória descritiva do patrimônio edificado de Aracati vítima do descaso das autoridades. 

 
MP- As narrativas são ambientadas na histórica cidade de Aracati. Em que medida essas histórias ajudam a valorar o patrimônio cultural da cidade? 
APF- Lendo os contos o leitor vai, esse é nosso anseio, ter naturalmente a curiosidade de saber como eram esses prédios, quem eram seus proprietários, de que maneira viviam, como eram os costumes? Consequentemente queremos com isso contribuir para a educação patrimonial dos jovens com a preservação dos prédios e sobrados que ainda nos restam e que também tem suas histórias memoráveis. 

 
MP-Diz um ditado popular de que “quem conta um conto aumenta um ponto”. É importante revigorar o conto tradicional? Quantos pontos podem ser acrescentados no processo criativo da escrita? 
APF- Diz Jorge Luís Borges que cada geração escreve o mesmo poema, conta o mesmo conto. Com uma pequena diferença: a voz. É isso mesmo, as histórias que eu conto no livro são diferentes, um pouco, daquilo que ouvi. Naturalmente, a essência é a mesma, mas minha entonação ao contar, ao escrever é diferente. Sempre aumento um ponto. 

 
MP- É de sua autoria diversos artigos e livros todos tendo como temática a cidade de Aracati. Em outras oportunidades você chegou a afirmar que não se considera um historiador, todavia um pesquisador e amante da história da Terra dos Bons Ventos. Que assuntos sobre a história aracatiense você gostaria que constasse em sua bibliografia? 
APF- Eu, na verdade, não sou historiador. Eu gosto de contar histórias e Aracati é o meu tema principal. Ainda pretendo escrever algumas outras coisas sobre nossa cidade e nossa gente. Tenho quase pronto uma pesquisa sobre a história política aracatiense, a partir de 1912, quando da queda do Cel. Pompeu Costa Lima do poder, até os nossos dias. É um trabalho difícil, mas que gostaria de vê-lo concretizado e incluso na minha bibliografia, porque senão vão dizer que só sei escrever história de assombração! 

 
MP-A primeira edição de “Histórias de Assombração do Aracati” foi lançada no ano de 2006 por ocasião da segunda edição da Festa do Livro e da Leitura de Aracati- evento que deixou de configurar no calendário cultural da cidade. A produção literária aracatiense, cada vez mais crescente, não merecia iniciativas públicas para seu fomento e fruição? 
APF- Vejo sempre com decepção a maneira como, os mandatários, o poder público trata a cultura. Isso acontece em todos os níveis. É preciso dar oportunidade para que novos autores se revelem, escrevam sobre nossa cidade. Aracati tem muita gente de valor que poderia receber incentivo do poder público. Precisamos promover esses valores. 

 
MP- Em que medida a sua história se funde à história da cidade? 
APF- Tenho procurado participar da vida de Aracati de modo a contribuir com o seu desenvolvimento. Já participei ativamente do movimento político. Fui, inclusive, candidato a vice-prefeito. Em seguida fiz parte da gestão pública municipal por um curto período. Hoje, afastado das lides políticas e partidárias procuro contribuir publicando e livros a história de Aracati. Acredito ser essa a maior contribuição à minha terra- não deixar que sua história, a história da nossa gente se evapore e seja esquecida pelo tempo. 
Espero ser lembrado um dia, pelos meus conterrâneos, como uma pessoa, um aracatiense que teve a preocupação com a história de seu povo e que trabalhou para que essa história não ficasse no esquecimento e sim como legado para a posteridade. 


Entrevista cedida a Marciano Ponciano, por meio do facebook, em 07 de novembro de 2015. 

 

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Marciano Ponciano

MARCIANO PONCIANO- Sou natural de Aracati-Ce, terra onde os bons ventos sopram. Na academia da vida constitui-me poeta, realizador de sonhos, encenador de máscaras. Na academia dos saberes acumulados titulei-me professor de Língua Portuguesa e especializei-me em Arte-Educação. O projeto de vida é semear a arte por onde passe: teatro, poesia, artes plásticas- frutos da experiência acumulada em anos dedicados a ser feliz. Quando me perguntam quem sou - ator, poeta, encenador, artista plástico, educador? Afirmo: - Sou poeta!

Publicou:

Poetossíntese. Coletânea de poemas. Ed. própria. Aracati-CE. 1996.

Caderno de Literatura Poetossíntese. Coletânea de poemas. Ed. Terra Aracatiense. Aracati-CE. 2006.

aracaty. Cadernos de Teatro. Ed. Terra Aracatiense. Aracati-CE. 2010.

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Sobre nós

O Grupo Lua Cheia, com sede na cidade de Aracati-CE, é um coletivo de artistas formado em 1990 com o objetivo de fomentar, divulgar e pesquisar a arte e a cultura.