Marciano Ponciano- Desde os mais remotos períodos da história do Aracati, encontramos evidências da importância do rio Jaguaribe no desenvolvimento local. É possível enumerar os impactos ambientais provocados por essas atividades? E hoje?
Ocivan Oliveira- Sabemos que o rio Jaguaribe é um dos mais importantes do estado, pois quando buscamos rever a historicidade do mesmo, percebemos que o uso por parte do “desenvolvimento humano” que acompanhou sua história, tem mostrado claramente que muitos foram os impactos, desde a sua nascente à foz. Sendo possível, historicamente perceber que os impactos são muitos como: desmatamento, assoreamento, poluição das águas (esgoto, lixo, agrotóxicos...), o uso indiscriminado da água de seu leito para a criação de camarão em cativeiro, plantio entre outros.
Atualmente a situação em que se encontra é bastante preocupante, haja vista a ausência de políticas públicas (Municipal, Estadual e Federal) que venham garantir o cuidado, proteção e sobrevivência do rio.
MP- Qual foi a motivação para a fundação da ONG Filhos do Mangue?
OO-Sempre tivemos interesse em desenvolver um trabalho que pudesse contribuir de forma mais ampla e madura. Em 2006, com o surgimento do grupo, esse trabalho foi se fortalecendo. Ao longo do tempo compreendemos que para tornarmos esse trabalho voluntário, além de nosso amor, era necessário chegarmos a outro patamar: o de organização. Acreditamos que, mesmo como voluntários, temos uma responsabilidade muito grande no desenvolvimento da Educação Ambiental e preservação do Jaguaribe. Fundar uma ONG foi o caminho mais acertado que encontramos a fim de dar credibilidade extra, reconhecimento local ao trabalho e conseguirmos parceiros que também estejam dispostos a fazer sua parte em nome do AMOR À NATUREZA!
MP- Que ações a ONG desenvolve?
OO- O Instituto Filhos do Mangue de Aracati surgiu de um grupo de jovens que se incomodou com a quantidade de resíduos depositados no rio. Começamos prioritariamente com a ação de limpeza das margens para a qual criamos o projeto Rio Limpo e consequentemente outros: Conhecendo a Natureza- que consiste em palestras em escolas e comunidades; Conhecendo o Rio Jaguaribe- onde alunos e população em geral têm a oportunidade de caminhar numa trilha às margens do Rio.
MP- O que a população aracatiense deveria saber sobre o rio Jaguaribe?
OO- Muitas coisas. Sobre sua importância pra história do Ceará e do Brasil; que ele é o berçário da vida, fonte de alimento pra muitas famílias; que é frágil, é pai e mãe de muitas pessoas; que é rico em biodiversidade. Também é preciso saber o que vem acontecendo com ele ao longo de sua história, ou melhor, os impactos que ele tem sofrido, ficando claro que continuando assim em breve poderemos perdê-lo e deixarmos como herança pra futuras gerações somente uma vaga lembrança do que foi um dia.
MP- A ação preferencial da ONG se dá na sede do município de Aracati. Existe uma área delimitada, no rio, para a ação do grupo? Que espécies foram encontradas?
OO- Sim, pois nossa área de maior atuação ocorre no Rio das Onças, em Aracati. A priori definimos nossa área de atuação, Porto do Espigão ao Areal, de forma aleatória. Nesse local geralmente realizamos a retirada de resíduos sólidos.
A biodiversidade do Rio Jaguar, em Aracati, é bastante diversificada sendo possível encontrar espécies típicas como aves, peixes, crustáceos, moluscos, répteis, mamíferos e vegetação. Ainda não detectamos novas espécies, porém vale salientar que o Rio é lugar de muitas aves migratórias. Temos observado a permanência do pato d’água, espécie que precisa de um estudo aprofundado que nos possibilite entender o porquê ou que tipo de alerta a presença dessa espécie quer nos dar.
MP- Que ações sustentáveis poderiam ser desenvolvidas no rio Jaguaribe?
OO- Inúmeras, pois nosso rio é rico em beleza e biodiversidade. Suas águas são apropriadas para o desenvolvimento de várias de atividades como: criação de ostras, peixes nativos, turismo ecológico, turismo de aventura, entre outras.
MP- O mangue...
OO- O mangue é a árvore que compõem o manguezal. Muitas experiências já foram desenvolvidas (não por nós), com essa espécie, e verificou-se que ela pode ser usada de várias formas como: cultivo de plantas ornamentais (orquídeas e bromélias); criação de abelhas para a produção de mel; utilização da casca para produção de remédio caseiro (cicatrizante); tinturas (couro, tecido).
Entrevista cedida por Ocivan Oliveira a Marciano Ponciano em 26 de janeiro de 2016.