O INSTRUMENTAL
Rapaz, olha, eu acho que o primeiro santo preto que eu conheci foi Dona Carminha. Eu chegava à casa de Barra de Aço dia de domingo e o instrumental estava todo dentro do quarto. Eu nunca vi essa história de guardar instrumento dentro do quarto do casal.
Instrumentos atrás da cama, assim... A gente começava a tomar umas pingas e pronto o Aço começava a se entusiasmar: - Caveira... Batendo na mesa, batendo na mesa ele dizia assim: - Menino, vai ali dentro do quarto e traz ali um ganzá que é só pra dar o chiado. O cara chegava assim com o ganzá e chiqui, chiqui, chiqui... Aí dizia: - João vai buscar o tantan... baixim, baixim. Aí João Luiz trazia o tantan. Depois o tarol, quando era no fim tava o instrumental... Olha que 50 instrumentos dentro de uma sala, numa casa pequena, todo mundo batendo e cantando meu irmão... a mulher do Zé ficava doida, doida, doida. Ela saía pra casa das vizinhas. Até Gonzaga que era o vizinho oferecia dinheiro, ofereceu cinquenta mil cruzeiros, naquele tempo, pra gente desocupar a casa que era pra ele dormir.
A RUA É PÚBLICA
A casa em que Barra de Aço morava era da esposa dele. (Um dia) ele chegou em casa com umas duas e a mulher o expulsou. Barra pegou a rede, botou no ombro e veio pra frente da bodega de João Luis (da Costa). Botou a rede dele de uma árvore pra outra. Chegou em João Luis, pediu um litro de cachaça, um copo, botou uma, deitou-se na rede e disse assim: -Anda agora Dona Carminha me expulsar de casa: a rua é pública. Ele só foi pra casa porque vieram pegá-lo, bem nove horas da noite.
O CASÓRIO DA MARIA
Um dia, pra esquentar os tamborins, como dizia Barra de Aço, ele se fantasiou de mulher com uma roupa de Carminha, as pernas muito tortas e finas. Eu fui em casa, peguei um paletó, botei uma gravata... Vamos fazer o “Casório da Maria”. Fizemos uma placa dizendo: Casório da Maria. Quando chegamos à casa do Capitão Miguel ele convidou a gente para entrar- ali defronte à Rádio Cultura. Nós, tudo liso, quando chegamos ali tinha três litros de cachaça em cima da mesa, aquelas com caju dentro, eu disse: Eu tomo é aqui. Ali ficamos só dançando, o casório da Maria. O casório da Maria ao redor da mesa. Eu sei que me embriaguei... viemos de lá pra cá quando chegou em frente aquela loja de Biraci, eu me agarrei no poste. Não podia mais andar. Aí Barrinha olhou assim pra mim:
- Ha, ha, ha hoje não tem lua de mel! A noiva melou o noivo. (risos)
Histórias extraídas de entrevista cedida por Mendonça a Marciano Ponciano e Regina Oliveira no dia 12 de janeiro de 2009.